Sugestões para Preta Gil. Por Paulo Renato Coelho Netto

Preta Gil… É verdade que “a vida é um sopro”, como disse o arquiteto Oscar Niemeyer e você citou emocionada. Que seja também um sopro na vela do nosso pequeno barco enquanto estivermos cruzando os mares e as marés altas e baixas da vida. Como apontou Chico Xavier, “isso também vai passar”…

Após 55 dias internada para tratamento de câncer no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Preta Gil declarou para o jornal O Globo:

“Hoje, eu entendo que a vida é o agora. Que sucesso não é agenda cheia nem capa de revista. Sucesso é estar viva, poder abraçar quem eu amo, poder rir, chorar, sentir. A doença me ensinou a valorizar o simples e a ser grata pelo que antes eu nem enxergava. A vida é um sopro, e o que realmente importa é o amor“.

Peço licença para compartilhar algumas coisas que aprendi sobre simplicidade.

O primeiro passo é descobrir como não se abater com a toxidade que domina os dias atuais.

O pianista brasileiro Nelson Freire, por exemplo, evitava ver televisão ou ler notícias sobre violência. Praticamente desconhecido no Brasil e respeitado na Europa, foi um exímio intérprete de compositores clássicos como Chopin, Bach, Beethoven e Villa-Lobos.

Como aqui ninguém reconhecia seu valor, pegou suas coisas e foi embora. Simplificou a vida.

O Brasil é tudo, menos um convite à simplicidade.

Mesmo querendo, é praticamente impossível viver de forma simples neste país atolado em corrupção, socialmente injusto e economicamente desigual. Aqui as elites gostam de trabalhar com quem está morrendo de fome.

O imperador romano e filósofo Marco Aurélio nos ensinou que “Você tem poder sobre sua mente, não sobre eventos externos. Perceba isso e encontrará força.”

Mais simples, impossível. Focar apenas no que podemos controlar.

Evitar informações tóxicas é utopia, mas manter distância de pessoas tóxicas é uma opção ao nosso alcance que pode ajudar a saúde mental. Isso é simples também.

De tanto complicar, o tempo se encarregou de me ensinar o poder da simplicidade.

Na essência, somos todos sobreviventes, ainda mais depois da pandemia mundial de coronavírus, que vitimou mais de sete milhões de pessoas no mundo. Só no Brasil, mais de setecentas mil pessoas morreram em decorrência da pandemia.

Acordar de manhã por si só é um milagre.

Coisas simples estão por aí, à nossa espera.

É surpreendente abrir uma romã, a fruta que lembra rubis.

A cor, as sementes envolvidas em pequenas bolhas com polpas brilhantes e suculentas, o aroma delicado e inconfundível.

No Brasil a romã virou sinônimo do Dia de Reis, seis de janeiro, data que na tradição católica os Reis Magos teriam levado presentes ao local de nascimento de Jesus Cristo.

Na simpatia, comer e guardar sementes de romã atrai saúde, paz, amor e dinheiro.

Se por motivos de saúde você não comemorou o seis de janeiro, faça hoje o Dia de Reis e surpreenda-se com a romã mais bonita que puder encontrar.

Ouvir música e cantar são presentes dos deuses. Considerando o pai e o padrinho que você tem, vou pular essa parte. Neste ponto, você nasceu no Olimpo.

Pedro Mattar, um eterno amigo publicitário, escreveu que a “felicidade não passa de pequenos trechos, pelos quais passamos todo dia, toda hora, invariavelmente desatentos”.

Mattar me contou que foi convidado para um aniversário de uma amiga. Como estava sem dinheiro para comprar um presente, escreveu o poema “Pequenos Trechos” e deu para ela de presente. A poesia tem outros versos e virou música. É linda. Pedro se foi, a canção e seu carisma ficaram para sempre.

Existe algo mais simples que tomar sorvete? Escolher os sabores com calma, sentar em um banquinho e ficar lá olhando longe para não enxergar nada?

Ler poesia, andar descalço na areia, passear de bicicleta, ouvir e contar piadas, encontrar somente quem te faz bem, ficar em absoluto silêncio, ver um filme, descobrir desenhos nas nuvens, ouvir estrelas para perder o senso, cuidar de plantas e abrir os ouvidos para as aves.

Escrever.

Abraçar árvores.

Tomar café de manhã cedinho com um pãozinho francês com manteiga. Isso é suficiente para ajoelhar e agradecer o resto do dia por estar vivo.

O café é tão mágico que o cheiro se espalha pela casa toda como um convite para que outros se aproximem e compartilhem.

Quando for a São Paulo, em qualquer padaria, peça um pingado. Impossível falar de simplicidade sem mencionar o melhor café com leite servido em um copo americano.

Ninguém faz um pingado como na capital paulista.

No mais, te desejo água. Muita água para beber, contemplar e mergulhar.

Água do mar, rios e cachoeiras. Água de coco, de mina e de bica.

Água cura a alma.

Já reparou na decepção dos cientistas quando encontram um planeta novo e constatam que não tem água?

Água é vida. É de uma bolsa de água que se rompe que desembarcamos encharcados para o mundo.

Tudo que é verdadeiramente simples está à disposição e ao nosso alcance.

É verdade que “a vida é um sopro”, como disse o arquiteto Oscar Niemeyer e você citou emocionada.

Que seja também um sopro na vela do nosso pequeno barco enquanto estivermos cruzando os mares e as marés altas e baixas da vida.

Como apontou Chico Xavier, “isso também vai passar”.

Sobre simplicidade, a poeta e doceira Cora Coralina nos ensinou: “Estou vivendo o melhor tempo da minha vida – tempo de paz, de tranquilidade, de certezas. Tempo em que não tenho nada e nada me falta. E não quero ter mais do que isso que você vê. Tudo isso me basta com sobra”.

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Paulo Renato Coelho Netto –  é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.