
Pró-natalista. Por José Horta Manzano
… vamos endireitar a redação do anúncio da Folha, que está meio torto. A expressão “Impulso a grupos pró-natalista” parece estranha. Para melhorar, há pelo menos três opções…
Nos tempos de antigamente, quando se costumava guerrear à força dos braços, o lado que dispusesse de mais braços tinha vantagem considerável sobre o adversário, pois podia contar com mais combatentes. Maior exército significava mais gente para segurar baioneta, para sitiar uma cidade, para manipular arbaletas, canhões ou minidrones.
Essa lógica funcionou até pouco tempo atrás. Desde que foram inventados artefatos que, lançados de longe, podem causar tremendo estrago, tornou-se relativa a necessidade de contar com exército mais numeroso que o do inimigo.
Na guerra da Ucrânia, por exemplo, a Rússia, país invasor, conta com população três vezes superior à do país invadido. Em teoria, poderia fazer mingau da Ucrânia. Mas faz três anos que está pelejando, sem sucesso.
Ao término de um período de conflitos, Estados guerreiros – como a França de Napoleão, por exemplo – instaurava políticas natalistas. A intenção era incentivar a população a ter mais filhos, de maneira a fornecer “carne de canhão” para servir às guerras pátrias.
Nestes últimos 80 anos, desde que terminou a Segunda Guerra Mundial, políticas de natalidade deixaram de fazer sentido na bacia atlântica (Europa e Américas). Se as famílias latino-americanas continuaram a fabricar muitos filhos por algumas décadas ainda, foi por falta de instrução adequada, nada a ver com política natalista.
A informação que reproduzi na entrada é de deixar surpreso. É realmente curioso ver aparecerem, na seita dos seguidores de Trump, grupos que veriam com bons olhos a instauração de uma política de natalidade. Para quê mesmo?
Me ocorre que esses grupos enxergam a chegada de clandestinos latino-americanos como ameaça existencial ao equilíbrio racial da sociedade dos EUA. É certamente essa a razão de tais grupos simpatizarem com uma política que promova o aumento da população branca. Na ideia deles, isso pode neutralizar a contaminação da sociedade americana por “latinos” de baixa estatura e pele bronzeada. E pobres.
Agora, um tanto incrédulos quanto à inclinação das jovens damas americanas para gerar mais pequerruchos, vamos endireitar a redação do anúncio da Folha, que está meio torto.
A expressão “Impulso a grupos pró-natalista” parece estranha. Para melhorar, há pelo menos três opções:
“Impulso a grupos pró-natalistas“
(natalista pede s no final para concordar com grupos, que está no plural)
“Impulso a grupos pró-natalidade”
(é outra opção para substituir o deselegante “pró-natalistas”
“Impulso a grupos natalistas”
(é a opção mais simples e direta, eliminando o “pró”)
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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