PAPA

Na história milenar da Igreja Católica, Francisco foi o único papa a rezar sozinho no Adro da Basílica de São Pedro. Era 27 de março de 2020. O mundo entrava em pânico com o início da pandemia de Covid-19. /27 DE MARÇO DE 2020 - (Photo by Handout / VATICAN MEDIA / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / VATICAN MEDIA" -

O papa demasiadamente humano. Por Paulo Renato Coelho Netto

Jesuíta, o papa Francisco fez votos de pobreza. Não recebe salário. Quando precisa de alguma coisa, pede para o Vaticano. Se puder, ele mesmo vai e faz…

PAPA FRANCISCO

Nascido Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco se distanciou da suntuosidade da função de Sumo Pontífice para exercer seu ofício como pároco de 1,390 bilhão de católicos pelo mundo.

Eleito no conclave que terminou em 13 de março de 2013, sempre que possível escolheu o caminho da simplicidade, inclusive na forma clara de se comunicar com os fiéis.

Revelou-se acessível aos meios de comunicação. A declaração histórica “Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para julgar?” foi dita durante uma conversa de quase uma hora e meia com jornalistas durante o voo de volta ao Vaticano, após a visita ao Brasil, em julho de 2013.

Francisco é um papa que sabe se comunicar, a antítese do antecessor Bento XVI, o alemão Joseph Ratzinger que não falava bem e não tinha carisma, outra força arrebatadora de Bergoglio.

O líder religioso decidiu morar na Casa Santa Marta no lugar do Palácio Apostólico do Vaticano, onde por tradição residem os papas.

Sobre a decisão, ele disse: “Para mim é um problema de personalidade: isso é tudo. Eu preciso viver entre as pessoas, e se eu vivesse sozinho, talvez um pouco isolado, isso não me faria nenhum bem”.

Bem humorado, respondeu para um professor que queria saber sobre a moradia: “Escute-me, professor: por razões psiquiátricas”.

A Casa Santa Marta nada mais é que uma hospedagem para religiosos que tenham compromissos no Vaticano. Em outras palavras, é um hotel.

A um padre brasileiro que pediu bênção ele disse que “o Brasil não tem salvação porque é muita cachaça e pouca oração”.

Antes de se tornar papa, o argentino Jorge Mario Bergoglio era arcebispo em Buenos Aires.

Como todo argentino, é apaixonado por futebol. Bergoglio é torcedor fanático do Clube San Lorenzo de Almagro.

Dado a fazer promessas desde adolescente, o papa não assiste televisão desde 1990 por conta de uma promessa para Nossa Senhora do Carmo.

Tornou-se o primeiro pontífice não europeu em 1.200 anos e o primeiro papa das Américas.

O papa do fim do mundo

Em seu primeiro discurso, Francisco disse ao fiéis na Basílica de São Pedro: “Irmãos e irmãs, boa noite! Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um bispo a Roma. Parece que meus irmãos cardeais tenham ido buscá-lo quase ao fim do mundo… Eis-me aqui!”.

Taxado de comunista, o papa Francisco declarou que “a sociedade se esquecera da experiência de chorar e de sofrer com os outros”.

Bergoglio foi acusado de fazer vistas grossas à ditadura na Argentina. Neste caso, foi acusado de ser defensor da ultradireita.

Durante a campanha para presidente da Argentina, o então candidato Javier Milei o chamou de “imbecil” e “homem do diabo na terra”.

Tempos polarizados, à mercê do inferno das redes sociais por onde a desinformação corre livre e solta. Tempos estranhos que o povo conduz pelo voto democrático líderes fascistas à presidência da República.

Jesuíta, o papa Francisco fez votos de pobreza. Não recebe salário. Quando precisa de alguma coisa, pede para o Vaticano.

Se puder, ele mesmo vai e faz, como no episódio que buscou em uma ótica, no centro de Roma, lentes novas para os óculos. Fez questão de pagar pelo serviço.

Na Argentina, era um padre que andava de bicicleta por Buenos Aires e dava catequese nas favelas.

Depois de se graduar como técnico em química, graduou-se em teologia pela Faculdade de Filosofia e Teologia de São Miguel.

Humano, teve um ataque de raiva quando uma turista apertou forte demais sua mão na Praça de São Pedro.

Quem sou eu para julgar?

Sobre homossexuais e a Igreja Católica, declarou ao ser perguntado sobre um eventual lobby gay no Vaticano: “Se uma pessoa é gay, procura ao Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O Catecismo da Igreja Católica explica e diz que não se deve marginalizar essas pessoas e que elas devem ser integradas à sociedade”.

O papa Francisco permitiu que padres abençoem casais do mesmo sexo e declarou em respostas à ala conservadora da Igreja Católica: “Ninguém se escandaliza se eu der minhas bênçãos a um empresário que talvez explore pessoas, e isso é um pecado muito grave. Mas eles se escandalizam se eu as dou a um homossexual”.

Na história milenar da Igreja Católica, Francisco foi o único papa a rezar sozinho no Adro da Basílica de São Pedro. Era 27 de março de 2020. O mundo entrava em pânico com o início da pandemia de Covid-19.

No “Momento Extraordinário de Oração”, a figura solitária de Francisco personificou, ao mesmo tempo, fragilidade e esperança. A imagem é histórica, assim a mensagem.

Francisco refletiu, em um dos trechos: “À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer» (cf. 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos”.

Nem todos ouviram. Resultado: mais de sete milhões de mortos por coronavírus no mundo, mais de setecentas vítimas fatais só no Brasil.

O Carnaval corre solto pelas ruas brasileiras, “o lugar de muita cachaça e pouca oração”, segundo Jorge Mario Bergoglio.

As notícias não são boas sobre a saúde do papa Francisco. São piores para os dias de hoje se ele faltar. Há ódio demais no mundo.

Líderes como Bergoglio são essenciais para contrapor a cólera pela paz, a ignorância pela sensatez, e a estupidez pela fé.

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paulo rena

Paulo Renato Coelho Netto –  é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.

 

capa - livro Paulo Renato

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