fim do mundo FEVEREIRO - TEM CARNAVAL

Fim do mundo, começo do carnaval. Por Adilson Roberto Gonçalves

Não é à toa que desejamos o fim do mundo, ao menos, deste planetinha em que vivemos, descontentes com os rumos da (in)civilização. Seria muito bom que o propalado asteroide colidisse de forma eficiente com nosso planeta…

fim do mundo

A semana já é de Carnaval, mas a mescla de notícias segue curso – ou corso – distinto. Ou múltiplo, para ser mais realista.

De um lado, quando se veem as diretrizes norte-americanas em relação a gênero, fica explícito o desrespeito à natureza humana, natureza nossa que nunca foi binária. O ingênuo concluirá, talvez, que isso aconteça porque Elon Musk é dono de empresa de tecnologia em que os zeros e os uns da linguagem digital são predominantes. Ou seja, o herdeiro das joias de sangue que está mandando no governo quer que o mundo seja também 0 ou 1. Não é. Somos mesclas de nossas histórias, de nossas circunstâncias e de todo esse conjunto dos que nos antecederam e dos que convivem conosco. A genética e o ambiente explicam parte do que somos. O acaso também tem seu papel.

Nos Estados Unidos de agora, dentre vários delírios presidenciais, o de perseguição às pessoas trans é um dos mais sórdidos. No entanto, no afã de criticar tal medida, citando possíveis heróis dos quadrinhos e do cinema que seriam trans, Ruy Castro, na Folha de S. Paulo, exagerou e abusou do sofisma ao afirmar que os personagens Mickey e Minnie nunca aparecem no mesmo quadrinho, uma indicação de que seriam a mesma “pessoa”, o que não é verdade. Mas o espírito da crítica é válido e apenas reforça minha tese de que a extrema direita tem forte tara por pessoas trans, tantas são as iniciativas contra elas, especialmente no esporte. Infelizmente, para além do pitoresco, é da sobrevivência delas que se trata.

Não é à toa que desejamos o fim do mundo, ao menos, deste planetinha em que vivemos, descontentes com os rumos da (in)civilização. Seria muito bom que o propalado asteroide colidisse de forma eficiente com nosso planeta e desse uma chance para a vida recomeçar com novas rotas evolutivas e corrigir esse tremendo erro que foi a espécie humana. Mas os cientistas já descartaram a hipótese, afastando o risco de tal destruição. Que pena!

O carnaval vai, assim, em curso, período que começa e termina em datas muito distintas para cada um. Oficialmente, feriado é apenas na terça-feira gorda. No domingo estaremos de olho na avenida e no Oscar. E, ao que tudo indica, também no Vaticano. A saúde mais ainda debilitada do Papa Francisco acontece simultaneamente à consagração do filme “Conclave” pelo BAFTA e sua forte chance de ganhar o Oscar.

Coincidências, tenebrosas coincidências.

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Perfil ambiental e político – Adilson Roberto Gonçalves –  pesquisador da  Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista.  Vive em Campinas.

 

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