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Você já foi traído? Por Paulo Renato Coelho Netto

Um amigo pergunta se algum dia fui traído, se fiquei sabendo ou não e se traí também…

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Um amigo pergunta se algum dia fui traído, se fiquei sabendo ou não e se traí também.

Antes, me contava de um conhecido que é tratado pela mulher abaixo da linha da miséria emocional.

Pensei que a história não muda, mudam apenas os personagens e o tempo.

Quanta gente se submete a bancar o ioiô nas mãos de alguém.

Basta um gostar mais e o outro menos, e o segundo ter um certo sadismo, que o choque acontece.

O desprezado e o desprezível. O fraco nas mãos do carrasco. Coisa para psicanalista analisar.

Etimologicamente, prefiro a palavra traição a corno.

Corno é quase um palavrão. Chamar de corno é uma ofensa. Se referir a alguém como traído pode ser até um ato de solidariedade.

Ser traído é uma condição que pode afetar qualquer ser humano ao longo da vida. Além das relações afetivas, a traição acontece no trabalho, na família, entre conhecidos e onde houver duas pessoas disputando poder e dinheiro.

Nas guerras, trair o país é um crime punido com pena de morte. No crime organizado, o X9 tem o mesmo fim. Alcagueta, dedo-duro, delator.

Na política, campo minado sem ética, o traído de hoje será o aliado amanhã.

Quando se é jovem é normal querer abraçar o mundo. O problema é arrumar alguém que confunde abraçar o mundo com abraçar todo mundo.

Fui alvejado pela traição e também disparei meus torpedos por aí, por vingança ou autoafirmação.

Tem gente que se empolga na traição e vai fundo até quebrar a cara. Casar com a amante é pedir para ser traído no futuro.

É como a fábula do “Escorpião e o Sapo”. Por instinto, mesmo que estiver sendo salvo, na metade do rio o escorpião vai aplicar o ferrão nas costas da próxima vítima.

Luiz Ayrão, sambista das antigas, compôs em 1975 uma bela música a respeito, “Bola Dividida”: Será que essa gente percebeu / Que essa morena desse amigo meu / Tá me dando bola tão descontraída / Só que eu não vou em bola dividida / Pois se eu ganho a moça eu tenho o meu castigo / Se ela faz com ele vai fazer comigo.

O atual monarca do Reino Unido, Rei Charles III, entrou para a história com a frase “Quero ser seu Tampax”.

Foi dita por telefone para a amante Camilla Parker Bowles quando ele ainda era casado com a princesa Diana.

A conversa entre os dois foi gravada por um rádio amador, rodou o mundo e deixou claro que qualquer um pode ser traído, até a Lady Di.

No caso da princesa Diana, foi um livramento. Se libertou do marido e da sogra que tinham em comum o fato de não sentir nada por ela.

A lady escanteada deixou o caminho livre para que o então príncipe Charles vivesse para sempre com a Camilla Bowles.

Ela ganhou ou perdeu?

Há traição da monarquia ao boteco da esquina. Em São Paulo existe o famoso Bar do Corno.

A traição é uma instituição universal. Não é inerente à uma classe social, cultural, intelectual, acadêmica, corporativa, urbana ou rural.

A indústria etílica talvez não tivesse prosperado se não fosse tanta dor de corno para ser anestesiada na cachaça, cerveja, vinho, uísque, vodka, absinto e no saquê.

O traído é a personificação de um relacionamento que não existe mais ou nunca existiu de fato.

Como a princesa abandonada pelo príncipe-tampax, ser vítima de traição pode ser a porta que se abre para uma vida melhor no futuro.

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paulo rena

Paulo Renato Coelho Netto –  é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.

 

capa - livro Paulo Renato

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