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O mundo que encolhe. Por Meraldo Zisman

O mundo que encolhe…Silenciosa, quase despercebida, uma transformação profunda altera o destino do planeta: a queda populacional. Se antes a grande preocupação era a superpopulação, hoje o cenário se inverte.

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Por séculos, a humanidade avançou como uma força implacável: expandiu-se, conquistou territórios, ergueu impérios e multiplicou-se sem freios. O crescimento populacional parecia um fenômeno inevitável.

Silenciosa, quase despercebida, uma transformação profunda altera o destino do planeta: a queda populacional. Se antes a grande preocupação era a superpopulação, hoje o cenário se inverte. Cidades começam a esvaziar, escolas fecham por falta de crianças e sistemas previdenciários rangem sob o peso de uma população que envelhece sem reposição.

O que aconteceu? E para onde estamos indo? A natalidade despencou em boa parte do mundo. Japão, Coreia do Sul, Itália e Alemanha já enfrentam essa realidade há anos. Mas agora, até países que antes tinham populações em explosão – como Brasil e China – veem seus números cairem. Projeções da ONU indicam que algumas nações podem perder metade de seus habitantes até o fim do século.

O motivo? Mulheres estão tendo menos filhos, muitas vezes nenhum. O índice de fecundidade, que deveria se manter acima de dois filhos por mulher para garantir a reposição demográfica, agora flutua perigosamente abaixo desse valor em vários países. As razões são múltiplas e se entrelaçam. Criar um filho nunca foi tão caro — educação, moradia e saúde pesam no orçamento. A ascensão das mulheres no mercado de trabalho trouxe novos horizontes, e muitas optam por adiar ou abdicar da maternidade em busca de estabilidade e realização pessoal. Além disso, há um fator menos comentado: a fertilidade humana vem caindo, pressionada por estresse, poluição e um estilo de vida que afasta cada vez mais as pessoas das condições naturais para a reprodução.

O impacto desse novo mundo é gigantesco. Menos jovens significa menos trabalhadores, reduzindo o crescimento econômico, desacelera o consumo e ameaça colapsar os sistemas de aposentadoria. Em uma sociedade envelhecida, aumentam os casos de solidão, de doenças crônicas e de sobrecarga nos sistemas de saúde. Para complicar ainda mais, a imigração – solução adotada por alguns países — gera desafios culturais e políticos, reconfigurando nações que já lutam para se adaptar às mudanças.

Governos tentam reagir. A Hungria, o Japão e a Coreia do Sul oferecem incentivos financeiros para quem decide ter filhos. Empresas repensam suas políticas para permitir uma melhor conciliação entre carreira e maternidade. Inteligência artificial e robôs começam a preencher lacunas no mercado de trabalho, reduzindo a dependência da força humana. Mas será suficiente? O futuro está repleto de perguntas inquietantes. Veremos cidades fantasmas, com prédios inteiros abandonados? Trabalharemos até os 80 anos, sem aposentadoria viável? A tecnologia resolverá a falta de trabalhadores, ou a solidão digital se tornará um novo problema?

A queda populacional não é um fenômeno distante. Ela já está aqui. O mundo muda diante de nossos olhos, e as decisões tomadas hoje definirão o que restará para as próximas gerações.

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Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos maiores e pioneiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.

Relançou – “Nordeste Pigmeu”. Pela Amazon: paradoxum.org/nordestepigmeu

2 thoughts on “O mundo que encolhe. Por Meraldo Zisman

  1. Isto é realmente um fato atual, muitos seres humanos preferindo animais de estimação do que terem seus próprios filhos, ao meu ver, no contexto cultural, alguns jovens estão tendo atitudes fora da realidade moral da que fomos criados.
    Excelente artigo, meu queridíssimo Amigo Dr. Meraldo.

  2. Todo o seu relato é de uma verdade absoluta e esta nova geração ( netos) não vão querer ter filhos e o casamento seria uma união apenas para compartilhar com viagens e uma boa cama

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