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Sobre J. K. Rowling e o wokismo. Por Aldo Bizzocchi
Wokismo… admiro a coragem da britânica J.K. Rowling, em posicionar-se contra a cultura woke, ou identitarismo (ou mimimismo, como eu costumo chamá-la), ou ainda cultura do cancelamento…
Não gosto da saga Harry Potter, considero-a subliteratura, mesmo que destinada ao público infanto-juvenil, mas admiro a coragem de sua autora, a britânica J. K. Rowling, em posicionar-se contra a cultura woke, ou identitarismo (ou mimimismo, como eu costumo chamá-la), ou ainda cultura do cancelamento, um movimento liderado por elites intelectuais brancas, principalmente acadêmicos e jornalistas, supostamente em favor de minorias. Muitas dessas minorias, por sinal, não se sentem representadas por essas elites, que usurparam suas bandeiras e suas dores e que não lutam por justiça social — embora digam que sim —, senão pelo poder. A elite wokista já é maioria nas universidades, na mídia, no show business e mantém seu poder por meio de negacionismo e desinformação científica, sobretudo etimológica, bem como pela censura e pelo linchamento moral de quem dela discorda.
Antes de qualquer coisa, um esclarecimento: não sou de direita; tenho horror a Donald Trump e Jair Bolsonaro; rompi com familiares por seu posicionamento reacionário e golpista. Mas tampouco sou de esquerda; abomino sobretudo os identitaristas e sua postura de donos da verdade, monopolistas da pureza e palmatória do mundo, seu cinismo de condenar a extrema-direita por fazer aquilo que eles próprios fazem.
Leiam o que J. K. Rowling disse.
“Essa ideia de ‘por que você se importa com uma fração minúscula da população?’ é, e sempre foi, completamente ridícula.
A ideologia de gênero minou a liberdade de expressão, a verdade científica, os direitos dos gays e a segurança, privacidade e dignidade de mulheres e meninas. Também causou danos físicos irreparáveis a crianças vulneráveis.
Ninguém votou nisso, a vasta maioria das pessoas discorda, mas ainda assim foi imposto de cima para baixo por políticos, órgãos de saúde, acadêmicos, partes da mídia, celebridades e até pela polícia. Seus ativistas ameaçaram e cometeram atos de violência contra aqueles que ousaram se opor. Pessoas foram difamadas e discriminadas por questioná-la. Empregos foram perdidos e vidas arruinadas, tudo pelo ‘crime’ de saber que o sexo é real e importa.
Quando a poeira baixar, ficará mais do que evidente que isso nunca foi sobre uma suposta minoria vulnerável, apesar do fato de algumas pessoas realmente vulneráveis terem sido prejudicadas. As dinâmicas de poder que sustentam nossa sociedade foram reforçadas, não desmontadas. As vozes mais influentes durante todo esse fiasco vieram de pessoas protegidas das consequências por sua riqueza e/ou status.
Elas não correm o risco de acabar presas em uma cela com um estuprador de 1,90 metro que agora se chama Dolores. Não precisam de centros públicos de atendimento a vítimas de estupro, nem frequentam os provadores de lojas populares. Elas sorriem em sofás de programas de TV enquanto falam sobre aqueles ‘horríveis extremistas de direita’ que não querem pênis balançando nos chuveiros das meninas, seguras de que suas piscinas particulares continuam sendo os refúgios seguros de sempre.
Os maiores beneficiados pela ideologia de identidade de gênero foram homens, tanto os que se identificam como trans quanto os que não. Alguns foram recompensados por seu fetiche de vestir roupas femininas com acesso a todos os espaços antes reservados às mulheres. Outros transformaram seu conveniente novo status de vítima em uma desculpa para ameaçar, agredir e assediar mulheres.
Homens de esquerda que não se identificam como trans encontraram uma plataforma magnífica para exibir suas credenciais progressistas, zombando das necessidades de mulheres e meninas, enquanto se dão tapinhas nas costas por ceder direitos que não são deles.
As verdadeiras vítimas desse caos foram mulheres e crianças, especialmente as mais vulneráveis, além de pessoas gays que resistiram ao movimento e pagaram um preço horrível, e pessoas comuns que trabalham em ambientes onde um pronome errado pode levar à humilhação pública ou à demissão.
Não me digam que isso é sobre uma minoria vulnerável. Esse movimento impactou a sociedade de formas desastrosas, e se você tiver um pouco de juízo, estará silenciosamente apagando cada traço de mantras ativistas, ataques ad hominem, falsas equivalências e argumentos circulares de suas redes sociais, porque está se aproximando o dia em que você vai querer fingir que sempre viu através dessa loucura e nunca acreditou nela por um segundo sequer.”
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Aldo Bizzocchi é doutor em linguística e semiótica pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorados em linguística comparada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em etimologia na Universidade de São Paulo. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa da USP e professor de linguística histórica e comparada. Foi de 2006 a 2015 colunista da revista Língua Portuguesa.
Autor, pela Editora GrupoAlmedina, de “Uma Breve História das Palavras – Da Pré-História à era Digital”
Site oficial: www.aldobizzocchi.com.br