Autoestima é o que nos falta. Por Antônio Claudio Mariz de Oliveira
Autoestima é o que nos falta…Se o forasteiro extraterreste observasse a comunicação escrita constante de folhetos de propaganda de produtos; dos cartazes e faixas; nome de lojas; da carroceria de caminhões; publicidade em televisão, e tantas e tantas formas e locais de divulgação visual o inglês pareceria a ele ser a língua oficial.
PUBLICADO EM "MARIZALHAS", MIGALHAS, EDIÇÃO DE 31 DE JANEIRO DE 2025
Um ser do outro mundo que nos visitasse teria fundadas dúvidas sobre as nossas origens: serão os habitantes do Brasil brasileiros?
Exagero à parte, a questão é intrigante. Cada povo tem suas próprias marcas que o identificam e diferenciam dos demais. O mais notável desses sinais distintivos é a língua. Em sequência os hábitos e costumes, as manifestações artísticas e culturais, em especial a música e a literatura, as preferências esportivas e tantas outras exteriorizações das suas características.
Se o forasteiro extraterreste observasse a comunicação escrita constante de folhetos de propaganda de produtos; dos cartazes e faixas; nome de lojas; da carroceria de caminhões; publicidade em televisão, e tantas e tantas formas e locais de divulgação visual o inglês pareceria a ele ser a língua oficial.
Tem sido assim há muitos anos. Na década de trinta Noel Rosa, Carmen Miranda, Assis Valente, Lamartine Babo e outros levaram para o samba memoráveis letras de refinada ironia contra a “macaquice” linguística, em defesa do nosso idioma.
No entanto, é preciso que se conte ao nosso visitante que nem sempre foi assim. Época houve em que os franceses eram os ingleses e americanos de hoje. A França era o modelo. Parte da elite, desprovida de qualquer apreço pelo país, envergonhada mesmo de aqui ter nascido, adotou a língua, a arquitetura, a culinária francesas. Como singelo exemplo, todos os cardápios das festas e jantares no Império eram escritos em francês.
Caso o nosso hóspede perguntasse a razão dessa invasão estrangeira, por nós aceita e agregada, com certeza ninguém saberia explicar-lhe. Como resposta mais fácil poder-se-ia atribuir ao nosso decantado complexo de inferioridade, complexo de cão vira lata. Como diria Nelson Rodrigues “nós somos uns narcisos às avessas. Cuspimos na própria imagem.”
Pois bem, nesse singelo escrito eu quero adicionar à nossa já proverbial tendência de imitar e prestigiar outros povos em detrimento do nosso, quero realçar um fato da atualidade: a eleição do presidente americano, especificamente a descomunal e incompreensível importância dada a ela pela imprensa nacional. Dir-se-á que se trata da escolha do mandatário da nação de maior relevância do universo.
É verdade, mas os jornalistas incorporaram esse evento como fosse ele decisivo para a nossa vida política, institucional, econômica. Cada fala do eleito passou a merecer páginas e páginas de comentários, críticas, especulações, elocubrações, afirmações as mais desconexas com a realidade, como se lá fosse aqui, como se o que é bom para eles fosse bom para nós. Aliás um político do passado fez essa afirmação: bom para os gringos bom para nós.
Está na hora de adquirirmos auto estima e amor ao Brasil.
https://www.migalhas.com.br/coluna/marizalhas/423741/autoestima-e-o-que-nos-falta
_________
*Antônio Claudio Mariz de Oliveira é advogado criminalista, da Advocacia Mariz de Oliveira. Mestre em Direito Processual pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Conselheiro no Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), membro da Comissão de Direito Penal do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) e atuou como Secretário de Justiça e Secretário de Segurança Pública de São Paulo nos anos 1990. Foi presidente da AASP e da OAB-SP por duas gestões.