JORNALISMO

Uma digressão sobre o jornalismo moderno

… a mídia tradicional terá de se reinventar para combater o falso jornalismo, a começar por se desdobrar em múltiplas linguagens para chegar às periferias, aos jovens e aos mais susceptíveis a teorias da conspiração e congêneres…

Por Adilson Roberto Gonçalves

digressão sobre o jornalismo moderno

O jornalismo já foi considerado a fonte primária da informação, especialmente a informação política, em que os atores podem manifestar em uma entrevista aquilo que é decidido a quatro paredes. As matérias publicadas em jornais e revistas são até hoje objetos de estudos de historiadores, literatos, biógrafos, genealogistas e dos próprios jornalistas que confiam na letra impressa como símbolo próximo à verdade.

Ao longo do tempo, essa importância e relação do jornalismo se alteraram muito, em função da informação aparentemente na ponta dos dedos de todos, do desmonte das redações, da possibilidade de qualquer um com um celular na mão ser testemunha ocular dos fatos, e, extremamente relevante hoje em dia, do uso das narrativas para criar uma realidade paralela para benefícios próprios de quem a criou ou para favorecer determinados grupos econômicos, sociais e políticos.

O jornalismo mudou, portanto. E pode ter ficado algo perigoso, antes de obsoleto. Muitos veículos têm se adaptado a novas situações e reforçando a necessidade da seriedade da apuração e da confiança nas notícias publicadas. Estilos nessa comunicação – que levam a outras estéticas também – são outra vertente de atenção. Gosto muito dos textos narrativos, o chamado jornalismo literário, com profundidade e sem fugir da verdade.

Desta forma, foi interessante o artigo de Eugênio Bucci publicado no Estadão recentemente (26/1), em que discorre o tema “do jornalismo ao entretenimento”, constituindo-se em uma linda e necessária aula sobre as facetas do jornalismo modelo – ou falta dele. A mentira prospera nas redes sociais e parece que há poucos recursos para combatê-la, ainda mais agora que os donos das big techs se aliaram a Donald Trump na cruzada para fazer valer seu mundo paralelo a despeito da realidade. Não vejo como ponto negativo o jornal ou qualquer outro veículo informativo ter um lado político, desde que seja explícito. Mas a mídia tradicional terá de se reinventar para combater o falso jornalismo, a começar por se desdobrar em múltiplas linguagens para chegar às periferias, aos jovens e aos mais susceptíveis a teorias da conspiração e congêneres.

Por outro lado, como um contraponto aparentemente até proposital, a ombudsman da Folha de S. Paulo avocou que toda notícia tem de ter outra narrativa. Para mim soa como o mantra da extrema direita defendendo as fake news. Ela usou em seu argumento a falta de crítica negativa balizada em relação ao filme “Ainda estou aqui”.

A obra, com certeza, não é unanimidade, mas usar o filme como exemplo para a necessidade de “dois lados” para tudo o que se publica é, no mínimo, leviano.

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Perfil ambiental e político – Adilson Roberto Gonçalves –  pesquisador da  Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista.  Vive em Campinas.

 

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