Menos conflito, mais arte. Por Wladimir Veltman
Menos conflito, mais arte… vou explicar como funciona a coisa aqui. O Oscar é votado pelos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a nata de Hollywood e com grandes nomes do cinema mundial também. Eles não ligam, nem gostam desse tipo de cizânia armada por fãs…
LOS ANGELES – Caros, domingo, dia 2 de março, acontece a festa do Oscar. A última vez que um filme de ficção brasileiro foi indicado para um Oscar foi em 2004, com Cidade de Deus de Fernando Meirelles e Katia Lund. Antes disso, em 1999, Waltinho Salles concorreu com o seu Central do Brasil, e Fernanda Montenegro, a estrela do filme, foi também indicada na categoria de Melhor Atriz. Agora Ainda Estou Aqui compete com 3 indicações – Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz, com Fernanda Torres, repetindo o trajeto de sua maravilhosa e querida mãe.
Pelo que vejo na Internet, o Brasil está em clima de final de Copa, com gente até pensando em não assistir desfile de escola de samba no carnaval, pra acompanhar a premiação.
Muito legal. A gente estava precisando desse tipo de evento e destaque para apaziguar o clima reinante e se sentir menos por baixo.
Fernandinha merece toda a atenção que está recebendo por aqui. Além do trabalho maravilhoso no filme, ela tem brilhado nos EUA em entrevistas e participações em talk-shows, mostrando que além de simpática, é uma mulher extremamente inteligente. Seu inglês é impecável. E ela o usa de forma muito charmosa. Conquistou a todos.
Infelizmente rolou a baixaria nas redes sociais por parte da atriz de Emília Perez, Karla Sofía Gascón, que em parte foi suscitada pela baixaria de alguns fãs brasileiros excitados, pondo lenha na fogueira como se Oscar fosse campeonato de futebol.
Menos, pessoal, menos. Nem Fernanda, nem Waltinho precisam desse tipo de publicidade. Muito pelo contrário. O público americano desgosta profundamente esse tipo de manifestação. Principalmente a turma do cinema e da Califórnia, que nada tem a ver com os partidários do atual presidente norte-americano, ele também fã de um bom barraco.
Pra quem não entende, vou explicar como funciona a coisa aqui. O Oscar é votado pelos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a nata de Hollywood e com grandes nomes do cinema mundial também. Eles não ligam, nem gostam desse tipo de cizânia armada por fãs e publicistas. Eles julgam os indicados baseados na qualidade dos filmes e na performance dos atores. É gente do meio votando em gente do meio. Peru de fora não se manifesta.
Tendo isso em mente, é preciso acalmar os ânimos e estar preparado para a grande possibilidade de não levar o caneco pra casa.
Ninguém duvida ou questiona a qualidade do filme do Walter, que foi indicado não só na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, assim como na de Melhor Filme do Ano. Isso em si já é uma premiação. Poucos sãos os filmes de fora que obtêm essa reverência.
No próximo dia 7 de fevereiro, Ainda Estou Aqui concorre na categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Critics Choice Awards e vale a pena conferir pela E! Entertainment Television.
E, ter Fernanda Torres competindo com atrizes de Hollywood também é uma realização por si só. Fernanda ganhou o Golden Globe, tornando-se a primeira atriz brasileira, latino-americana e de língua portuguesa a ganhar o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Dramático.
Ainda Estou Aqui está fazendo uma bela carreira nos EUA e sua publicidade com vistas ao Oscar é a melhor que eu já vi para um filme brasileiro. Nem Cidade de Deus que conquistou imensamente a classe artística americana em 2004, contou com tanta atenção.
Mas não podemos esquecer que Emília Pérez é uma forte concorrente. O filme obteve 13 indicações ao Oscar, tornando-se o filme mais indicado do ano. Ele compete com o filme de Waltinho tanto na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, assim como Melhor Filme do ano. E Karla Sofía Gascón, como Fernanda, concorre como Melhor Atriz. Mesmo os mais apaixonados tietes da nossa atriz, tem de admitir que Karla fez uma incrível trabalho nesse filme. E a perseguição injusta da atriz espanhola não cai bem para a turma LGBT+ de Hollywood, que tem papel importante nas votações. Em vez de ajudar, a turma da geral armando na internet está na verdade prejudicando Fernandinha.
Dito tudo isso, é bom lembrar que o Oscar e todos os demais prêmios do mundo audiovisual, são para divulgar e comemorar o trabalho desses maravilhosos profissionais que nos presenteiam com suas criações, enchendo nossos corações e mentes de histórias e sonhos, que adoçam nossa modesta existência. Vamos aplaudir a todos. O mundo está precisando de mais arte e menos conflito.
Nos vemos no escurinho dos cinemas…
The End.
_______________________________________________________
WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo.
_________________________(DIRETO DE LOS ANGELES)