Oriente Médio. Guerra até quando?

Até quando esses povos vão tolerar essa situação, presente há muito tempo, e que se reflete no mundo todo?

Oriente Médio. Guerra até quando? Por Charles Mady

Artigos antigos e recentes, de variados autores, repetem com insistência visões desgastadas e destrutivas, até doutrinárias, sobre o Oriente Médio. Desgastadas por serem redundantes, sem apresentar progressos que possam tirar a atual situação desse deserto de ideias construtivas e infestados de interesses corporativos. Destrutivas   porque ficam nítidas as intenções de certos escritores em formar opiniões com inverdades e estereótipos aceitos pelos menos informados. A propaganda consegue elaborar muitas versões de um determinado tema, e sempre haverá público para aceitá-las. A força dos meios de comunicação é incalculável, levando a benefícios e malefícios, conforme as intenções  do autor.

E o grau de polarização e radicalização que vivemos em relação a essa região estão se tornando cada vez mais destrutivos. São textos e opiniões que, de forma redundante, alimentam os ódios, sem indicar caminhos para a paz, distanciando os oponentes, que pouco dialogam, não se conhecendo nem se respeitando, condições importantes para um entendimento adequado. Como esses povos, e respectivas culturas, estão disseminados ao redor do mundo, as reações se tornam globais, o que dificulta ainda mais a construção de acordos equilibrados. Os horrores e crimes de guerra que assistimos provenientes de ambos os lados, apesar de serem desproporcionais pela diferença de poder bélico entre os oponentes, se tornam cada vez mais violentos e frequentes, ultrapassando qualquer padrão de decência.

Os ódios abrem portas para a imoralidade, banalizando todos os tipos de violência, sem que haja qualquer censura eficiente, interna e externa. A consequente destruição, segundo a imprensa internacional, é indescritível, e as ruínas lembram cidades alemãs e japonesas, como Hamburgo, Dresden e Tóquio, destruídas durante a Segunda Guerra mundial. Certo oficial das forças aliadas entrou em depressão ao visitar os escombros por ele provocados.

No Oriente Médio a incidência de distúrbios mentais está em níveis assustadores. Tornaram-se cemitérios a céu aberto, documentados intensivamente pela imprensa e pela ONU. A grande maioria das dezenas de milhares de mortos é constituída por civis inocentes de todas as idades, sendo que o termo genocídio está sendo utilizado com frequência cada vez maior, pois as vítimas fazem parte de um grupo étnico predominante. Pelo fato da região ser pequena e plana, eles se aglomeram, tornando-se alvos fáceis para artefatos potentes, classificadas como bombas que arrasam quarteirões, terminando de destruir o já destruído. Como disse uma certa autoridade israelense, que a ideia é não deixar pedra sobre pedra, tornando a terra um deserto inabitável, para aos poucos ser tomado e colonizado. Trata-se de uma típica limpeza étnica, não devidamente censurada e combatida pela pretensa consciência universal. Pelo visto, não aprendemos muito com as guerras anteriores, muitas se baseando em racismos, sectarismos e supremacismos. Antagonismos religiosos atingem níveis impensáveis, que qualquer religião corretamente aplicada não aceitaria, colocando o ser humano em segundo plano, não interessando suas vidas, mas sim a manutenção de suas ideias. Os interesses e ódios predominam, afastando cada vez mais a paz entre os Estados da Palestina e de Israel. Até quando radicais religiosos, políticos e raciais vão determinar o futuro dessa região, que se encontra cada vez mais militarizada e armada.

Os interesses das grandes potências constituem fatores determinantes para que essa situação se mantenha desastrosa. Fornecem armas de última geração, cada vez mais mortais, aos governos que estão no comando. As coletividades de ambos os lados, que têm poder ao redor do mundo, alimentam os ódios e sonhos de um Eretz Israel e de uma grande Síria, tornando a geopolítica um assunto a ser resolvido apenas com imposições políticas e econômicas. Os interessados não têm condições de,  sozinhos, conduzir um processo dessa magnitude. Deverão aparecer governos imparciais, com apoio internacional, para iniciar um processo dessa magnitude, que beneficie a todos.

Há tempos fizemos a sugestão a um alto dirigente que presidia um país do Oriente Médio, para tentar formar um mercado comum entre os países árabes e Israel. Os radicais de ambos os lados, que são minoria, não aceitaram. Até quando esses povos vão tolerar essa situação, presente há muito tempo, e que se reflete no mundo todo? Acreditamos muito que as diásporas têm muito a colaborar, apesar das dificuldades políticas que vão encontrar pois, como está, a situação tende só a se agravar.

_____________________________________________

LEIA TAMBÉM

Oriente Médio. Ódios incuráveis? Por Charles Mady

A paz ainda é possível. Por Charles Mady

Verdades inoportunas II. Por Charles Mady

Deixe a Palestina fora disso. Por Charles Mady

Estado de Israel e, ou, Estado da Palestina? Por Charles Mady

Os ódios não podem prevalecer. Por Charles Mady

_______________________

–  Charles Mady,  Médico e Professor associado do Instituto do Coração (Incor) e da Faculdade de Medicina da USP

charles.mady@incor.usp.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter