Os dez dias que já abalaram 2025. Por Marli Gonçalves
Não se passaram nem dez dias e a gente já sentiu o calor de 2025 bem no cangote fritando nosso otimismo. Mas não vamos desistir, até porque também será um desafio e tanto enfrentar o ódio liberado nas redes sociais.
Digo o que quiser? Ó, que liberdade linda, hein? Poder mentir, acuar, acusar, disseminar a confusão e desinformação por aí, sem punição, sem “censura”, sem qualquer mínima mediação ou controle. Você que se vire, seja quem for e o que tiver de conhecimento, discernimento, educação e possibilidades para separar o tal joio do trigo, e se defender. Fique aí esperando que alguém – com influência e que conheça esse desconhecido caminho – esperneie e consiga as tais simplórias “notas da comunidade”. As redes sociais ferverão mais que Los Angeles incendiada. Salve-se quem puder.
Donald Trump nem ainda tomou posse, imagino os próximos tempos, mas já reúne em torno de si todos os principais 666 que pôde, a começar das bestas do Apocalipse digital, Elon Musk, do X, Mark Zuckerberg, da Meta, que manda no Facebook, Instagram, WhatsApp. Drogas. Primeiro, nos fizeram dependentes, nos deram acesso gratuito, revolucionaram a comunicação instantânea, se infiltraram em todos os negócios do planeta, pegaram nossos dados e imagens. Agora nos fazem reféns, e juram que tudo isso é pelo nosso bem – vai ser uma síndrome de Estocolmo planetária se tiverem sucesso. O pior: os perebas falam de “liberdade” com tanta cara de pau, espaços, autoridade (e poder) que convencem muitos e acabam com qualquer chance de serem contidos em sua megalomania e narcisismo. Inteligência Artificial: artificial, adjetivo perfeito para essa toada.
Abrem espaços, estradas, rombos, como furacões, para causar ainda mais sérios transtornos na já combalida geopolítica internacional, capenga, que mal lida com questões guerras políticas, territoriais, religiosas, raciais, ambientais em todos os continentes.
Não é medo o que temos de sentir com essa escalada; mas coragem, porque viveremos esse tempo, com as ameaças e ideias imperiais do novo presidente da nação mais poderosa do mundo e que não param de emergir da sua cabeluda cabeça: em poucos dias cutucou sem nem corar o Canadá, a Groenlândia, a Dinamarca, o Panamá, o México e, em alguma medida, a América Latina. A coceira sobrou para a China, para a Otan, ONU, e o pisão de pé na Rússia. Não é pouco. Nem por pouco.
Ah, mas você não está falando do Brasil – já ouço, antes que façam a reclamação. Pois bem. Aqui, infelizmente nesse delicado momento, o governo parece biruta de aeroporto, se bem que a do aeroporto tem lógica. Um dia, dados positivos; no outro, preços e medidas que nos corroem qualquer recurso, comunicadas a tapas sem beijos. Muda o Pimenta pelo Sidônio. Alguém, por favor, localize o Ministro da Justiça, e o acorde. Aproveite e toca o alarme lá da Saúde, da Educação, da Economia, Habitação, Transportes, verifique se a Marina Silva está bem, e o que anda fazendo nossa diplomacia no meio disso tudo.
Se puderem, refaçam a lista – no Google deve ter o nome deles para ajudar a memória, que tenho até preguiça de procurar- daqueles outros que aparecem só para aplaudir sentadinhos nas cadeiras em solenidades. Avisem, por favor, que estamos tendo sérios ataques às comunidades dos povos originários, às questões das mulheres e negros, aos direitos conquistados: contem para eles que uma tal Comissão de Constituição e Justiça foi tomada de assalto por uns seres muito estranhos vindos do desatino anterior e que aproveitam a distração da sociedade, ou melhor, que a sociedade está ocupada em sobreviver no doloroso dia a dia, e que para se distrair – é verdade – começa até a já organizar o Carnaval, este ano junto com as águas de março.
Nesses primeiros dias não lembro de termos qualquer alento: acidentes pavorosos, assolados por alardes climáticos, por casos de violência e crueldade, comandos e milícias, além de notícias de epidemias possíveis.
Semana que vem tem mais: Trump, Maduro, aboletados. Mais notas oficiais “copia e cola” garantindo que tudo será “rigorosamente investigado”; da segurança, que “não compactuam com excessos ou desvios de função”, e daí por diante. E começa o BBB.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano, Coleção Cotidiano, Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.
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