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Que marca é? Por José Horta Manzano

Marca…ao ler a notícia de um atentado com carro-bomba ocorrido em Las Vegas (EUA), me dei conta de que os automóveis fabricados pelas indústrias do neopolítico Elon Musk fogem ao antigo costume que vale para todos os concorrentes…

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O Globo online, 2 jan 2025
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Folha online, 2 jan 2025
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Estadão online, 2 jan 2025

Quando eu era adolescente, tínhamos uma brincadeira especial que precisava de dois comparsas. Ficavam os dois sentados na calçada, um de frente para o outro de modo que cada um só podia enxergar os carros que vinham de uma das pontas da rua. Cada um tinha de adivinhar, só pelo ruído do motor, a marca de cada automóvel que vinha vindo às suas costas.

Na verdade, não era muito complicado visto que, naqueles tempos recuados, grande maioria dos carros eram Chevrolet e Ford, que tinham motor de ronco reconhecível. Mais difícil era quando surgia um Pontiac, um Studebaker ou um Lincoln.

E a gente continuava:

 “É um Chevrolet!”

“É um Ford!”

“É um Austin!” (Este fazia barulho de motor fraquinho)

E assim por diante. Jamais nos veio à ideia dizer: “É um carro da Ford!” ou “É um carro da Chevrolet!”.

Acho que ainda se fala igualzinho, não é?

Pois hoje, ao ler a notícia de um atentado com carro-bomba ocorrido em Las Vegas (EUA), me dei conta de que os automóveis fabricados pelas indústrias do neopolítico Elon Musk fogem ao antigo costume que vale para todos os concorrentes. Nenhum dos três maiores jornais do país relatou a explosão de “um Tesla”; todos eles contaram a explosão de um carro da Tesla.

Achei estranha essa hesitação em dar nome aos bois. Se se trata de um carro e se o fabricante é Tesla, é um Tesla. Como seria “um Ford” ou “um Mazda” ou “um Toyota”. Por que razão se faz essa diferença com os automóveis de Mr. Musk?

A firma é nova

Não me parece argumento válido. Uma firma fundada em 2003 (22 anos atrás) não entra nesse conceito de “nova”.

 O dono é bilionário

E daí? Por que, diabos, uma marca automobilística deveria ser tratada com maior ou menor respeito segundo a fortuna do proprietário? Mr. Ford e Mr. Chevrolet também nadavam em dinheiro.

O carro é elétrico

Há elétricos de outras marcas, mas todos entram na regra comum. Só Tesla escapa.

Tesla não soa como nome de montadora

Concordo que Tesla soa mais como marca de secador de cabelo. Mas uma coisa não justifica a outra. Gurgel, marca efêmera de automóveis nacionais que existiu pelos anos 70 e 80, também parecia mais ser nome de família da alta burguesia próxima ao imperador; assim mesmo, ninguém dizia “um carro da Gurgel”, mas sim “um Gurgel”.

Em resumo, não encontrei razão sólida que justifique tratar com tão reverenciosa distância os automóveis do futuro ministro de Trump. Se alguém souber, por favor mande cartinha para a redação.

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Tenho mais uma observação. Antigamente se dizia que o acidente “deixou um morto” ou “fez um morto”. Dava-se por entendido que o morto era um humano, não um animal. Hoje vejo que é preciso especificar que o acidente “deixou uma pessoa morta”.

Por que escrevem assim? Para deixar mais claro? Não acredito. Concluo que a intenção oculta, nesse caso, é o respeito à ditadura do politicamente correto.

Falar de “um morto” pode até dar a entender aos ingênuos e delicados ouvidos modernos que se trata de um homem morto, não de uma mulher. Para clareza absoluta, usa-se a forma neutra “pessoa”.

 “Uma pessoa morta” tanto serve para um defunto como para uma defunta. Sinal dos tempos. A sexualidade nos persegue além-túmulo.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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2 thoughts on “Que marca é? Por José Horta Manzano

  1. Talvez o pessoa morta seja porque hoje pets são mais valorizados do que seres humanos, por isso querem deixar claro que foi apenas…”uma pessoa”

  2. Tesla é marca “mais valiosa” da indústria automobilística, produzindo pouco mais que um por cento da Toyota, agora, parece, segunda maior marca em vendas, vale muito mais, mais que a Chevrolet, indústria americana criada por americano, recriada por americano para americano. BYD produz muito mais veículos que a Tesla e vale menos; e, pior, ambas têm a sua maior linha de montagem na China, que subsidia pesadamente as suas empresas de veículos elétricos. Pode dar certo?
    Cadê “america great again”? Com o maior “industrial americano” investindo na China e patrocinado pelo idiótico que será presidente de novo, pode dar certo?

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