É bom ter cuidado com 2025. Por Fernando Gabeira
Cuidado…Investidores querem austeridade, muita austeridade. Mas já vimos, na Grécia, que essa fórmula tem limites
Tenho uma modesta bola de cristal. Às vezes ela embaça e perde o foco. Ainda assim, sugiro cuidado com o ano que entra.
Nos Estados Unidos, Trump promete deportação em massa e aumento das tarifas, além de uma pesada campanha contra a mídia. Dificilmente brasileiros escaparão da rede da deportação num bonde cheio de outras nacionalidades. O aumento de tarifas visa à China, mas Trump já mencionou outros países que estão na sua mira: Brasil e Índia.
Aqui dentro, o ano termina em sobressalto econômico. Há uma divergência entre as visões do governo e do mercado. Os investidores querem austeridade, muita austeridade. Mas já vimos, como na Grécia, que essa fórmula tem limites. O governo acha que a presença do Estado — gastando dinheiro, abrindo empregos, aumentando salários, aumentando consumo — faz rodar a máquina da economia. Lord Keynes aprovaria tudo isso, em certa conjuntura. O problema é que não estamos nela. Portanto, apesar de suas pretensões eleitorais, o governo tem limites.
Até que ponto veremos um nível de conciliação entre as duas visões conflitantes? A desconfiança acabou impulsionando o dólar às alturas, com reflexos possíveis no preço de combustíveis e alimentos. A ausência de um compromisso entre dois grandes atores acaba atingindo a vida dos que estão na planície.
Uma nova batalha se avizinha: a das emendas parlamentares. O STF quer que o dinheiro usado pelos deputados seja transparente e rastreável. Eles tentam escapar dessas regras. Um pagamento de R$ 4,2 bilhões foi bloqueado pelo ministro Flávio Dino. Quando os deputados voltarem de suas férias, a encrenca estará armada. Confrontarão o Supremo, porque não abrem mão de tanto dinheiro.
As emendas parlamentares são uma jabuticaba brasileira. Nas democracias ocidentais, os deputados aprovam ou rejeitam o Orçamento feito pelo Executivo. Só no Brasil administram diretamente parte do dinheiro. E que parte! Talvez chegue aos R$ 60 bilhões.
Em 2025, teremos o julgamento da tentativa de golpe. Está mais ou menos marcado para setembro. Se for televisionado, pode se tornar atraente como uma novela. Os detalhes sobre os quais escrevemos cotidianamente serão dramatizados na boca dos advogados.
Teremos a COP30 em Belém, no Pará. O primeiro encontro internacional sobre meio ambiente na Amazônia. O Brasil pretende afirmar sua posição de liderança na questão. No entanto é uma tarefa cheia de riscos. Grande parte dos problemas amazônicos permanece insolúvel.
As queimadas aumentam.
A inteligência artificial, tão falada, certamente fará coisas imprevisíveis no ano que vem. E o debate sobre o controle da internet continuará no Supremo, já que o Congresso prefere deixá-la como está. Esta pausa de fim de ano pode levar os ministros do STF a estudar mais o tema. Algumas intervenções, como as de Dias Toffoli, foram, digamos assim, preocupantes.
O grande poeta Drummond dizia que o último dia do ano não é o último dia da vida. Com minha experiência nas estradas brasileiras, diria que a ponte que caiu entre Tocantins e Maranhão não é a última a desmoronar diante do descaso oficial.
Espero estar errado e que 2025 seja um ano de paz, prosperidade e que alguns sonhos pessoais se realizem — afinal, só eles podem desafiar mesmo as mais enevoadas bolas de cristal.
Em caso de absoluto desencanto, nem tudo está perdido. Os japoneses inventaram um método de desaparecer da vida cotidiana e começar noutro lugar, sem vestígios do passado. Cobram pouco mais de US$ 2 mil para dar outro nome, outra identidade e endereço. O nome é johatsu, evaporar.
Não há divergências entre o governo e o mercado, tanto um como outro sabem que o déficit das contas públicas é insustentável. É uma questão matemática, não de opinião.
O que há é um governo preocupado apenas com a próxima eleição, sustentando um crescimento artificial com desperdício de dinheiro público.
E um parasita (mercado) que não quer que o hospedeiro (país) não morra.
Lord Keynes aprovaria nossos déficits, e eu também, se estivéssemos construindo ferrovias, reformando rodovias, ampliando nossos portos, diversificando nossa matriz energética, investindo em algo que trouxesse algum retorno.
Mas nem mesmo o mais keynesiano dos keynesianos aprovaria tamanho desperdício com gastos que não trarão nenhum retorno: 60 bi com emendas parlamentares sem sentido, 15 bi para “cultura”, supersalários dos judiciário, mps, tribunais de contas, etc, etc, etc.