Prêmio Sákharov

O ganhador simbólico é o conjunto de opositores ao regime de Maduro, representados por María Corina Machado e Edmundo González Urrutia

O nome do prêmio é homenagem ao físico nuclear, ativista dos direitos humanos e dissidente soviético Andrei Sákharov (1921-1988), nascido e morto em Moscou…

Prêmio Sákharov
…O ganhador simbólico é o conjunto de opositores ao regime de Maduro, representados por María Corina Machado e Edmundo González Urrutia…

O Prêmio Sákharov pela Liberdade de Pensamento é a mais alta distinção concedida pelo Parlamento Europeu para recompensar ações em favor dos direitos humanos. Desde 1988, o nome do ganhador (ou dos ganhadores) é anunciado alguns dias antes do Natal. Em época de troca de presentes, o Sákharov é um presentão: o vencedor tem direito a um cheque de 50 mil euros (R$ 316 mil). Nada mal para um Natal farto.

Através dos anos, já foram agraciadas figuras conhecidas como Nelson Mandela (África do Sul), Alexander Dubček (Tchecoslováquia), Xanana Gusmão (Timor Leste), Alexei Navalny (Rússia) e muito mais gente.

O nome do prêmio é homenagem ao físico nuclear, ativista dos direitos humanos e dissidente soviético Andrei Sákharov (1921-1988), nascido e morto em Moscou. Jovem formado, recebeu de Stalin a incumbência de alcançar os EUA na corrida ao armamento atômico. De seu desempenho, a União Soviética pôde contar, em pouco tempo, com a bomba H made in Russia.

Com o passar do tempo, o cientista foi tomando consciência do perigo que a arma atômica poderia representar em mãos incompetentes. E enveredou pelo caminho do pacifismo, um pecado mortal na antiga União Soviética. A tal ponto seus atos irritaram as autoridades, que ele foi mandado para um exílio interno. Foi obrigado a se mudar para a cidade de Gorki (hoje Nijni Novgorod), a 7 horas de estrada de Moscou. Só não foi parar na Sibéria em razão do respeito que lhe deviam como pai da bomba soviética.

Em 1975, foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz. Todavia, não pôde ir buscá-lo pessoalmente em Oslo (Noruega) dado que as autoridades soviéticas não lhe concederam um visto de saída. Anos mais tarde, com a chegada de Mikhail Gorbatchev ao posto de secretário-geral do Partido Comunista e o progressivo afrouxamento do regime, o cientista pôde finalmente viajar pela Europa e pelos Estados Unidos, onde já era admirado.

Neste dezembro de 2024, o Parlamento Europeu acaba de entregar o Prêmio Sákharov do ano. O ganhador simbólico é o conjunto de opositores ao regime de Maduro, representados por María Corina Machado e Edmundo González Urrutia. Ela era para ser a candidata oposicionista nas eleições deste ano, mas no último momento foi declarada inelegível. De última hora, González a substituiu e ganhou o pleito com quase 70% dos votos. Ele é, portanto, o legítimo presidente da Venezuela.

Não sei se a turma do Planalto está sabendo do ocorrido. Se tiver ouvido falar, nosso presidente deve estar maldizendo a hora em que recebeu Maduro em palácio, com flores, banda de música e tapete vermelho. E quando disse que a “narrativa” do companheiro seria sempre melhor que a dos opositores. É de fazer chorar de raiva no escurinho do banheiro.

Assim são as coisas. Nada fica sem troco.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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