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Com a palavra, os leitores. Por José Paulo Cavalcanti Filho

COM A PALAVRA, OS LEITORES,

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O melhor, para quem escreve, é sentir a reação dos leitores. Seguem palavras deles, entre as tantas que recebi (aqui apenas trechos, pois a maioria trazia mensagens extensas), sobre artigo que escrevi na última semana dizendo como foram os negros anos da Ditadura Militar de 1964 e o terror do CCC, uma espécie de KKK tupiniquim. A favor ou contra, não importa, leitor aqui diz o que quiser. Sem nenhuma censura, claro, essa é a beleza da Democracia. Como em versos que escrevi lá atrás,

‒ Tem conversa sem um fim

Conversa na lei do cão

É um bom, outro ruim

Esse mundo é mesmo assim

Viva tu e viva mim

Viva Dom Sebastião.

Isso posto, vamos a alguns dos comentários:

ANTÓNIO DE ABREU FREIRE (da Universidade de Aveiro, Portugal): “Eu e outros companheiros europeus que ensinavam na PUC do Rio fomos obrigados a deixar o Brasil. O mesmo avião, tinha 2 motores a hélice, fez escala em São Paulo, onde recolheu outros indesejáveis, entre eles Fernando Henrique Cardoso, e nos despejou em Santiago do Chile. Estava lá Josué de Castro, com sua maleta de medicamentos para se manter vivo. Quase todos os companheiros desse tempo já zarparam do último cais para uma outra dimensão. Todos nós zarparemos também, um dia, cá deixando quem cuide do futuro”.

ANTÔNIO TORRES (imortal da ABL): “Na noite daquele 13 de dezembro (do AI5), estava no lançamento do livro 10 em Humor com Millôr, Stanislaw Ponte Preta, Ziraldo, Jaguar, Henfil, etc, no Bar Veloso, que depois virou Garota de Ipanema. Aí chegou um primo, chamado Humberto, que trabalhava no Jornal Nacional da Globo, com a notícia do AI-5. E tudo perdeu a graça”.

Desembargador EDILSON PEREIRA NOBRE (imortal da ALRN): “É preciso que muitos jovens, velhos no pensamento, tenham ideia mais clara do valor da democracia”.

FÁTIMA DINIZ: “Bom relato, melhor ainda porque nos relembra esse período que vivemos e nos anima para lutarmos contra a volta dessa época tenebrosa. No entanto, diante disso, não entendo como você não usou os seus brilhantes textos na época do impeachment da então presidente Dilma em que o ex, graças a Deus!, presidente fez a perversidade, a desumanidade, enfim o crime de em pleno voto homenagear o torturador Ustra na presença da própria torturada. Um horror!!!!”

FERNANDO GONÇALVES: “Fui amigo também de Cândido e seus irmãos Carlito (aviador já falecido), Célia, Clarice (médica já falecida que morava em Caruaru), Cláudio e Celso (professor UFPE e afilhado de meus pais). O Álvaro e a Dona Elinor eram amigos de meus pais e moravam perto da gente”.

Ministro FLÁVIO BIERRENBACH: “Li sua crônica desta semana com lágrimas nos olhos”.

GIOVANI MASTROIANNI: “Tive irmãos, processados, que sofreram nas mãos de defensores da legalidade. Nem de processos penais escaparam, embora absolvidos, sob a alegação de tentarem descarrilar um trem de passageiros. Enterrei os livros que os manos costumavam ler. Hoje em dia devem ter sido diluídos com as intempéries da natureza. Não sobrou uma só página”.

 GIRLEY BRAZILEIRO: “Na minha colação de grau fizemos tudo às escondidas. O paraninfo foi Celso Furtado e o homenageado era Dom Helder. Faça ideia da situação”.

HELENO VENTURA: “Na Faculdade de Direito da UFPE, também tive colegas proibidos de estudar. Época difícil. As portas da Harvard, amigo José Paulo, lhe fizeram bem”.

JOÃO FRANCISCO: “Há quase 60 anos, quando o Brasil vivia um regime militar, a cidade do Recife foi palco de diversos atentados. Mas a incursão do dia 25 de julho de 1966 entrou para a história, com bomba em pleno Aeroporto dos Guararapes. Houve excessos por parte dos militares? Evidente que houve; porém, repito, era uma guerra assimétrica. Hoje eles estão no poder e as liberdades acabaram. Posso ser preso pelo que coloco aqui pelo inquérito do final do mundo ‒ o atual A1-5”.

JORGE GEISEL: O preço da liberdade é a eterna vigilância, alertou Thomas Jefferson. Que estejamos vigilantes para não cairmos na armadilha do autoritarismo das normas excessivas, disfarçado de segurança coletiva para defesa da Democracia de fancaria”.

Desembargador JOSÉ LÁZARO GUIMARÃES: “É muito importante lembrar aquele tempo terrível. Lembrei de Cândido, vítima da ditadura, em ação contra a União, que julguei procedente, na JF-BA, por volta de 1983.

JOSÉ NIVALDO JÚNIOR (imortal da APL): “A única coisa que aproxima José Paulo do comunismo é o gosto por charutos cubanos”.

MARCO ALBANEZ: “Sincera e francamente, não tenho nem ideia do quê você pensou, como ministro ‒ quando estava no palanque ‒, vendo os militares, hoje, melancias, lhe prestando continência… (pensei, mestre, que o futuro de um povo deve se construir olhando mais que tudo para a frente). Sem comparação ao meu caso, 1970, já que tive ajuda do então Capelão do Exército padre João Barbalho, meu padrinho…”.

MARCOS ANDRÉ M. CAVALCANTI: “Hoje, o AI-5 está sendo reeditado sem precisar decretar, pelo STF/TSE e o governo Lula. A famosa ditadura alertada por Ruy Barbosa. Contra ela, não se tem a quem recorrer”.

Desembargadora MARGARIDA CANTARELLI (imortal da APL): “Quem não viveu esse tempo, não tem a menor ideia. Gerson Maciel e Egídio, meus professores queridos, sem poder mais dar aulas. Cheguei a visitar Candinho no hospital, levando uns lanchinhos. Depois, o perdi de vista. Quantas lembranças vieram com seu artigo”.

 RAUL CUTAIT (do Hospital Sírio Libanes, SP): “Tempos tristes. Contemporâneos universitários que fomos, na fase da vida onde se começa a descobrir o que é liberdade, sob todos os aspectos, a pressão e a repressão da ditadura militar, com mortes de colegas e amigos”.

TEOLINDA GERSÃO (escritora portuguesa): “Nessas andanças de juventude e nos perigos que correu, o caráter moldou-se e o destino também. Festejamos agora 100 anos do nascimento do nosso Mário Soares, a quem nunca agradecemos bastante”.

 WELLINGTON SARAIVA: “É extremamente importante que esses relatos se façam, para registro histórico e para que esses pedaços de verdade ajudem a construir e manter nossa ainda um tanto frágil democracia”.

 XICO BIZERRA: “Elucidativas as palavras do Mestre José Paulo. Retrata razões para que sequer pensemos na volta ao passado, no retrocesso que seria reviver os tempos sombrios do período abordado”.

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NATAL. O risco de recitar versos, nessa época do Natal, está bem descrito (em Versiprosa) pelo mestre Drummond

Menino, peço-te a graça

De não fazer mais poema

De Natal.

Uns dois ou três, ainda passa…

Industrializar o tema, eis o mal.

Mas peço licença para lembrar o amigo Fernando Pessoa (no Cancioneiro), ao escrever sobre esse Natal

‒ Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade

Nem veio, nem se foi: O Erro mudou

Temos agora outra eternidade

E era sempre melhor a que passou.

E é mesmo uma injustiça não lembrar também Carlos Penna Filho (Natal)

‒ Sino claro sino

Tocas para quem

Para o Deus menino

Que de longe vem…

E que lhe ofereces, velho pescador?

Minha fé cansada,

Meu vinho, meu Pão,

Meu silêncio limpo.

Minha solidão!

Que o Natal consiga tocar no coração de todos e cada um dos brasileiros num tempo tão complicado, em que desejamos sobretudo paz. O país reconciliado. Mais fraterno. O silêncio e a solidão de um povo dando vez a um riso limpo.

Feliz Natal!!!

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Leia o artigo anterior ao qual JPC se refere: (clique)

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________________________________________________JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO

José Paulo Cavalcanti FilhoÉ advogado, escritor,  e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Ex-Ministro da Justiça. Integrou a Comissão da Verdade. Vive no Recife. Eleito para a Academia Brasileira de Letras, cadeira 39.

jp@jpc.com.br

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