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O general e o caviar. Por José Horta Manzano

Não se perca fazendo continha de mesquinho. Lembre-se que o general está preso, fora de circulação, tolhido de seu direito de ir e vir. Está no xilindró. Pra coroar uma carreira 4 estrelas, não há castigo pior.

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O Globo informa que o general Braga Netto está detido na 1ª Divisão do Exército, na Vila Militar (Rio de Janeiro). Acrescenta que o preso tem à sua disposição uma suíte individual (quarto com banheiro exclusivo), armário, geladeira e televisor.

Tem gente que, ao saber da notícia, se indignou, bateu o pé no chão, cuspiu pra cima, jogou sal pra trás do ombro. Como assim? Com os presos comuns amontoados em celas de 40 indivíduos, esse aí vive como num Palace Hotel?

Pois eu digo que o importante não são as condições de detenção do graduado. O principal é ele ter sido abatido em pleno voo, apesar de todas as estrelas que carrega no ombro e da soberbia que lhe acalenta a personalidade. Lembre-se que, em qualidade de grã-general, Braga Netto tem direito a mais regalias.

A qualquer momento, pode mandar um ordenança até a banca da esquina comprar os jornais do dia. E as notícias vão martelar-lhe no ouvido a revelação de obscuras transações ora expostas à execração do distinto público.

Não há de ter perdido tampouco a edição deste domingo do Fantástico, que lhe reservou um bloco. Com ou sem cara feia do interessado, o Brasil está sabendo do comportamento criminoso de que o general é acusado.

Tem ainda a vergonha diante de todos os residentes e frequentadores do enorme (e belo) edifício onde ele se encontra: todos têm permissão para sair à rua quando de folga, só ele não tem.

A razão é simples: ele está preso, ora veja só.

Em matéria de conforto carcerário, todo o mundo sabe que os chefões de máfias e facções, embora presos, levam vida de sultães. Caviar, foie gras e champanhe fazem parte do regime, iguarias que não costumam ser servidas com frequência à mesa dos oficiais da Vila Militar.

Não se perca fazendo continha de mesquinho. Lembre-se que o general está preso, fora de circulação, tolhido de seu direito de ir e vir. Está no xilindró.

Pra coroar uma carreira 4 estrelas, não há castigo pior.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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