O que fizeram com as nossas cabeças. Por Fernando Gabeira
O que fizeram com nossas cabeças…Existe uma incapacidade de atenção prolongada. O estímulo é mudar constantemente no ritmo da ponta dos dedos…
Brain rot foi escolhida a palavra do ano pelo Dicionário Oxford. Significa cérebro podre. O termo define a exaustão mental provocada por uma imersão nas telas, pulando de um para outro tema que não contém estímulo intelectual. Na verdade, o termo já foi usado pelo escritor Henry Thoreau ainda no século XIX, em 1854:
– Enquanto a Inglaterra se empenha em curar a podridão da batata, ninguém se empenhará em curar a podridão do cérebro, que predomina de maneira muito mais vasta e fatal?
Todo esse legado e muito mais evidentemente continua disponível por aí. O que há de específico em nossa época é que, ao lado de outros fatores, agora a própria tecnologia conforma nossa mente. O mergulho em temas irrelevantes abre espaço a inúmeros novos problemas. O primeiro é a incapacidade de atenção prolongada. O estímulo é mudar constantemente no ritmo da ponta dos dedos. O segundo é evitar temas mais complicados. Num editorial, o New York Times abordou o problema, afirmando que as pessoas com essa tendência são facilmente atraídas por respostas simplórias para questões sérias. Na verdade, isso pode ser também uma explicação para o sucesso das teorias conspiratórias.
Agora, o buraco é mais embaixo. Discute-se no Brasil o controle da internet, sobretudo a redução do discurso de ódio. Mesmo se o ódio desaparecesse de cena, a crise continuaria, pois a tecnologia prosseguirá moldando as mentes. Continuará produzindo cérebros podres aos borbotões.
Algumas visões mais pessimistas, como a de Martin Heidegger, já previam alguns limites que a tecnologia contém. Não será muito fácil articular um futuro. O mundo real continua produzindo crises profundas, econômica, social, ecológica, grandes migrações. A tecnologia continua influenciando mentes a aceitar soluções simples e a adotar uma visão conspiratória do processo histórico.
Entregue a si mesmo, a engrenagem pode produzir regimes autoritários. Cabe às mentes que ainda têm uma abordagem do mundo que não é apenas instrumental, que ainda buscam um contato com a natureza, se dedicar a algum tipo de pensamento reflexivo. Cabe a elas a busca de uma forma de preservar o que resta de liberdade e democracia.
Será necessário, sobretudo, humildade. Não existem cérebros podres e cérebros puros. Estamos todos atingidos pelos estilhaços de uma época, a lógica capitalista, a destruição ambiental, o mergulho na irrelevância para evitar as dores da reflexão.
Existem, na verdade, alguns sobreviventes, mais ou menos inteiros, mas incapazes de virar o jogo sozinhos. Mesmo porque todos que estudam o cérebro sabem que é um orgão extremamente maleável, capaz de se alterar para atender a suas próprias necessidades. A compreensão desse potencial plástico é importante para fugirmos dos julgamentos definitivos.
Ao contrário das batatas, o cérebro pode se curar.
Não defendo o que o PM citado fez, mas, “curiosamente” a imprensa não para de falar nisso e na violência da polícia paulista, uma das MENOS letais do país.
Será que a explicação está na ideologia do governador? Em 2023 São Paulo a polícia foi responsável por 1,1 mortes por 100 mil habitantes e a bahiana por 12, mas não se ouve falar nela! “Coincidentemente” o estado é governado pelo PT há muuuiiitooo tempo! Tem outra coisa que eu não consigo entender, o silêncio absoluto da imprensa sobre nossa lei penal ser EXTREMAMENTE favorável aos criminosos e sobre o governo federal querer torna-la mais ainda!