Não chama a polícia…Por Marli Gonçalves
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembrar dos piores tempos que já vivemos sob o mando de militares cheios de insígnias e ódios, com o descontrole geral e um absurdo número de casos de despreparo e violência desmedida.
Fosse só em São Paulo, o arremesso da ponte, o menino que roubava sabão e tomou 11 tiros pelas costas de um “puliça” que decididamente não devia estar trabalhando; idosa ferida, sangrando, junto com a família espancada dentro de sua casa invadida por uma tropa sem mandado; os bailes funks parados à base de porrada, sprays de dominação gasosa, cassetetes vibrantes, chutes e balas (de revólver, esclarecendo aos que conhecem gírias) para tudo que é lado. No transporte metropolitano, o homem agarrado, chutado, asfixiado, torturado, arrastado, e arrastado ainda pelo chão, morto. No Rio de Janeiro, tiros voadores, crianças que brincavam em praças sendo transferidas para brincar no céu …
Tudo filmado, registrado, mostrado em detalhes, vários ângulos, seja por câmeras de segurança ou por vizinhos corajosos, cenas repetidas dia e noite nos telejornais, discutidas, analisadas por especialistas, blábláblá de tudo quanto é lado nas redes sociais. Mas ainda piora quando a gente vê as tais autoridades e superiores com cara de tacho tentando se explicar para não cair, como já deveriam ter caído, e que sempre acabam é tentando justificar e salvar suas próprias peles. A demora em tomar alguma atitude, a tal justiça morosa. Sempre escapa uma informação que a gente não tinha, até porque são tantos os casos que não conseguimos acompanhar. No meio disso tudo sabemos, por exemplo, que o PM que deu um tiro no peito do jovem médico sem camisa que corria dele na escadaria de um hotel continua solto, nem afastado do trabalho foi.
Aí, por aqui temos um governador “dupla face”, que vira o rosto endurecido para o lado que o vento melhor toca. De manhã diz uma coisa, se desdiz se pego no flagra, diz que não disse, ou não diz mesmo, nem responde, e aparece logo depois para anunciar que mudou de ideia. Que, tadinho, só agora está mais esclarecido sobre a importância do uso de câmeras, câmeras essas que pretendia pudessem ser desligadas pelos policiais nas ações. Não sei quem é, mas adoraria aplaudir muito o repórter que o enfrentou quando tentou desconversar de uma pergunta. Está faltando esse tipo de coragem real na cobertura de imprensa: perguntar, insistir, investigar, confrontar.
(Pausa para pedir desculpas pelo mau humor, mas a sucessão de horrores está mesmo muito pesada)
Aí vem mais um acaso ao conhecimento: o da mãe folgada dentro do avião que queria que a moça cedesse a janela para o filhinho dela – que coisa fofa! Ah, e ainda acusou a moça de falta de empatia. Não se aborreçam comigo, mas lembrem que desde sempre falo abertamente do assunto. Não tenho filhos e sei o quanto bate preconceito sobre isso, como se mulheres mães fossem mais mulheres que outras. Desculpe aí, hein? Mais aplausos, desta vez para a moça que não arredou pé do seu lugar e que ainda vai poder vencer um bom processo por uso de imagem, fora o mais de um milhão de seguidores que ganhou do dia para a noite. Admiro sua calma. Rezo para que situações como essa se deem bem longe de mim. Fora as dúvidas que o caso ainda suscita: porque a tal mãe só pediu a ela? Que eu saiba o avião tem um monte de janelinhas com marmanjos como vemos no vídeo que circulou. Cadê a tripulação para interferir? Porque alguém em plena consciência pode ainda achar que ela deveria ter cedido o lugar para o birrentinho?
Está todo mundo alucinando, mesmo, de verdade? Não é impressão? Se a gente não pode mais chamar nem a polícia, como é que fica?
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano, Coleção Cotidiano, Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
Querida Marli
Não se diga de mau-humor pelos fatos relatados, pois se considera mau-humorada diante destes fatos como eu seria classificado?
Quanto ao seu governador, coitadinho, diante da sua origem não se pode esperar nada melhor; veja o “ídalo” dele, que não viu nada, não ouviu nada, não fez nada e, especialmente, não leu nada. Mas, coitadinho, já se considerou errado uma vez; falta apenas se considerar errado pelo restante da obra.
Segundo minha mãe, menino mimado não pode dar certo na vida adulta; se mudou de ideia agora, é surpresa para mim. Criança acostumada a ter tudo o que quer por fazer birra, começa tomando o assento de alguém e continua como? Não conheço nada que se não for controlado deixe de tomar espaço, veja que até o Cajueiro de Pirangi tenta tomar o asfalto das ruas do entrono, imagina criança pirracenta quando cresce.
Calma para não se cansar cedo, pois tudo que aqui foi falado vai demorar para mudar; não é algo que mude por Lei, até porque para mudar a Lei é preciso mudar os legisladores e para isto é necessário mudar os eleitores. Mudar por Lei, ou por simples força de um papel é algo que brasileiro acredita, eu mesmo tenho (tenho ainda?) foto com prova de que papel, resolve, segura tudo, até concreto armado.
Beijos
Arthur
PS. Com calma para se poupar, mas continue assim.
Pronto, só em ler você fiquei mais calma. Beijos, amigo! Obrigada pela leitura sempre gentil
Não defendo o que os PMs citados fizeram, mas, “curiosamente” a imprensa não para de falar na violência da polícia paulista, uma das MENOS letais do país.
Será que a explicação está na ideologia do governador? Em 2023 São Paulo a polícia foi responsável por 1,1 mortes por 100 mil habitantes e a bahiana por 12, mas não se ouve falar nela! “Coincidentemente” o estado é governado pelo PT há muuuiiitooo tempo! Tem outra coisa que eu não consigo entender, o silêncio absoluto da imprensa sobre nossa lei penal ser EXTREMAMENTE favorável aos criminosos e sobre o governo federal querer torna-la mais ainda!
E vamos falar muito tempo ainda, até que NACIONALMENTE haja soluções.
Não é ideologia. É segurança. E contra o MEDO que já cansamos durante anos de ter de polícias