Viver de verdade. Por Meraldo Zisman
Viver…O bom humor também é essencial. Rir dos próprios medos e das situações absurdas que enfrentamos no dia a dia pode ser um antídoto poderoso contra o estresse. Afinal, se o caos já está aí, encará-lo com leveza é uma escolha sábia. Além disso, nunca subestime o poder do corpo…
A ansiedade coletiva é o preço que pagamos por viver na era da informação e do “tudo agora”. No Brasil moderno, onde a instabilidade econômica, a polarização política e as redes sociais se encontram em um verdadeiro triângulo das Bermudas emocional, é fácil se perder. A enxurrada de notícias, cobranças e expectativas transforma o cotidiano em uma maratona exaustiva. A sensação é de que estamos todos correndo, mas ninguém sabe exatamente para onde. Além das redes sociais, poderia citar outros fatores que contribuem para a ansiedade coletiva, como a cultura do imediatismo, a busca incessante por perfeição e a comparação constante com os outros.
No consultório, o cenário não é menos caótico. Pacientes chegam relatando insônia, coração acelerado e uma inquietação que não se explica. “Doutor, estou ansioso!” – a frase se repete, como se fosse o hino nacional de uma geração conectada e desconectada ao mesmo tempo. A tecnologia, que prometia facilitar a vida, acabou adicionando um peso extra ao que já era complicado. Vivemos um estado de hiperconectividade: estamos disponíveis para tudo e, ao mesmo tempo, ausentes para nós mesmos.
A ansiedade coletiva não escolhe classe social ou faixa etária. Ela atinge o executivo, o estudante e até quem já está aposentado. É democrática, mas implacável. E tem se manifestado de formas cada vez mais sofisticadas, do esgotamento físico e mental no trabalho ao pânico diante do simples ato de abrir o celular. Tudo parece urgente, tudo exige resposta imediata, e nós, humanos, simplesmente não fomos projetados para lidar com essa sobrecarga. Mas nem tudo está perdido. Gerenciar o estresse na era da informação começa com a consciência de que é impossível abraçar o mundo. Desligar o celular, por exemplo, é mais do que um ato de autocuidado – é quase uma declaração de independência. Experimente: silencie as notificações, ignore o fluxo incessante de mensagens e veja o que acontece.
Aviso: o mundo não acaba!
O bom humor também é essencial. Rir dos próprios medos e das situações absurdas que enfrentamos no dia a dia pode ser um antídoto poderoso contra o estresse. Afinal, se o caos já está aí, encará-lo com leveza é uma escolha sábia. Além disso, nunca subestime o poder do corpo. Caminhadas, exercícios físicos e até uma boa espreguiçada são formas simples, mas eficazes, de liberar tensões acumuladas. E, para os mais céticos, aqui vai um lembrete: respirar fundo não custa nada. No entanto, gerenciar a ansiedade coletiva vai além de soluções individuais. É necessário repensar como lidamos com a informação, as cobranças e o tempo. Permitir-se dizer “não” a o que sobrecarrega e priorizar o que realmente importa são pequenos gestos que podem fazer uma grande diferença.
A ansiedade coletiva é o reflexo do nosso tempo, mas não precisa definir quem somos. Como dizia um antigo ditado, “devagar se vai ao longe”. Talvez o segredo esteja aí: desacelerar, cuidar do corpo, rir da vida e lembrar que nem todas as batalhas precisam ser lutadas no mesmo dia. Afinal, viver não é uma corrida de velocidade – é uma maratona, e o ritmo certo é aquele que nos permite chegar ao final inteiro.
A ansiedade coletiva é um desafio real, mas não precisa ser uma sentença. Ao identificar os gatilhos, praticar técnicas de relaxamento, buscar apoio profissional e promover mudanças no estilo de vida, é possível reduzir significativamente os sintomas e viver uma vida mais tranquila e equilibrada.
Lembre-se: você não está sozinho nessa jornada.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos maiores e pioneiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
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