UCRÂNIA

A invasão russa na Ucrânia. Por Aylê-Salassiê F. Quintão

No caso dos coreanos do Norte, a participação deles na guerra com a Ucrânia resultaria de um acordo para a venda de equipamentos e o suprimento de contingentes militares para os russos. Como prestadores de serviço, os combatentes estrangeiros, de uma maneira geral, recebem um tratamento discriminatório…

JULGAMENTO DE UM CANDIDATO A CARRASCO   

 

UCRÂNIA
mapa da invasão russa da ucrânia

    A invasão da Ucrânia pela Rússia, há dois anos, já resultou em mais de um milhão de mortos, feridos e desaparecidos (Wall Street Journal:17/9/2024).  Até setembro, a Rússia teria perdido 300 mil combatentes contra 130 mil combatentes da Ucrânia.  Dois milhões de russos fugiram do país; 12 milhões de ucranianos emigraram. Milhões de famílias perderam seus lares e milhares de crianças tornaram-se órfãos. Grandes obras públicas e parte dos campos usados para produção de alimentos estão sendo destruídos. A fome já é vislumbrada em alguns lugares.

Não existem estatísticas precisas, nem da ONU (ACNUR). Começam, entretanto, a surgir os primeiros relatos reais sobre a guerra, frutos da cobertura de jornalistas correspondentes, das agências de notícias, da grande imprensa internacional e dos estrategistas militares europeus e norte-americanos. Rússia e Ucrânia divulgam também suas estatísticas, mas, oficiais, elas não são confiáveis.

 O certo é que estão morrendo diariamente milhares de soldados russos, jovens inexperientes, convocados às pressas, em que pese os enfrentamentos diretos estarem sendo feitos por unidades formadas por condenados pela justiça, que concordaram em participar da guerra em troca da redução ou do perdão das penas.  Trabalhadores indianos, paquistaneses. tailandeses, filipinos, que buscam a cidadania russa, são atraídos para o Exército com promessas de salários que podem chegar ao equivalente a US$ 2.300, se sobreviverem.  Recebem treinamentos rápidos e são lançados nas frentes da batalha.  Mortos não são sequer uma estatística.

No caso dos coreanos do Norte, a participação deles na guerra com a Ucrânia resultaria de um acordo para a venda de equipamentos e o suprimento de contingentes militares para os russos. Como prestadores de serviço, os combatentes estrangeiros, de uma maneira geral, recebem um tratamento discriminatório. Quando mortos, são deixados no campo ou enterrados em covas coletivas. Daí a evasão de soldados coreanos que começam a se perceber comercializados como “buchas de canhão”.

Atacada por todos os lados, e vendo seus territórios ocupados, lavouras destruídas, a Ucrânia terminou por conseguir autorização dos Estados Unidos para usar os chamados mísseis storm shadow“, de longo alcance e precisão milimétrica que transportam grandes quantidades de explosivos. Foi uma resposta aos bombardeios de Kiev, a capital ucraniana.

Não bastasse essa nova ameaça aos russos, a China continua a reivindicar partes de seu território anexados pela Rússia em conflitos anteriores. Entre eles está o porto de Vladvostok, no extremo asiático. A Rússia o ocupou e estacionou ali a 5ª Frota Naval. Em 2022 e 2023 os russos lançaram uma nova Doutrina Marítima de proteção ao seu território, e realizou exercícios militares sistemáticos, mobilizando 167 navios, 12 submarinos, 89 aviões e 25 mil militares. Mas, em Vladvostok e cidades prósperas da Oeste asiáticos os trabalhadores chineses já representam 40 por cento da população regional.

Com um PIB dez vezes maior que o da Rússia, a China tem a segunda maior força naval do mundo, representada por   350 navios de superfície e submarinos, em constante crescimento e modernização.

Seu Exército, integrado por 1,4 milhão de combatentes: o maior do planeta. A China possui também equipamentos militares de moderníssimos tipos: drones, foguetes, ogivas nucleares, capacidade digital tão ou mais avançada que os EUA. E já existe nas redes sociais provocações, segundo as quais a China estaria interessada em ocupar a Sibéria, de recursos naturais estratégicos. A Rússia deve conviver assustada com os chineses. Para agravar o quadro, a Turquia, sócia no Mar Morto, avisou: “Deixem a Criméia!” O mar Morto desemboca no estreito de Bósforo, totalmente dentro do território turco. Os russos na Criméia é prenúncio de um conflito futuro com a Turquia.

Vive-se cenário realmente temerário. Nele desponta, na televisão, Wladimir Putin advertindo que pode fazer uso de artefatos nucleares. Não se sabe se a mensagem é endereçado à Ucrânia, aos países da OTAN ou até mesmo à China que assiste ligeiramente distante a aventura russa na Ucrânia, sem esquecer seus territórios ocupados pela Rússia. O país tem muitos problemas de fronteira com vizinhos e, internamente, com os povos siberianos (20 a 30 milhões de habitantes), ao longo do tempo silenciados à força.

Esse panorama requer dos russos moderação. Vladimir Putin não tem PIB que sustente suas bazófias, ou então, ele, de fato, não tem a dimensão exata do que sonha e diz. A Rússia, individualmente, é o país com o maior estoque de armas nucleares, grande parte desatualizadas. Juntos, Estados Unidos, Europa e outros aliados somam um arsenal duas ou três vezes o da Rússia. A vaidade e a indiferença de Putin com a morte de milhões de pessoas civis e militares, seja onde for, chegou ao ponto de ele pretender fazer da invasão da Ucrânia um conflito mundial. Mas cometeu, inicialmente, dois erros humanitários: sequestrou crianças ucranianas e deu um tratamento indiferente a vida de seus próprios combatentes. As famílias russas perdem seus filhos e chefes, convocados para a guerra, que muitos consideram fraticida.

Se me sensibilizo com as perdas humanas,  chego a ter pesadelo com as possíveis respostas às ameaças de Putin, que poderiam afetar cidades históricas como São Petersburgo,  Ecaterimbugo, Ikursk, Krasnoyarsk, Murmasnk, Suzdal, Norilk, Wladimir, Voronej, Glazov, Tambov, Kazan, Novosibirsk e até Moscou – todas inscritas ou candidatas ao título de Patrimônio Histórico e Artístico Mundial concedido pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.  A primeira bomba nuclear lançada por Putin poderia ter uma resposta tão devastadora que os russos – o mundo – ficariam desnorteados. Provavelmente, receberia como resposta  uma chuva delas. Ninguém ia esperar por uma segunda bomba russa. A resposta imediata e devastadora está na moda.

  Depois de Nagasaki e Hiroshima, a bomba atômica tornou-se um instrumento de dissuasão, e não uma arma de destruição. Ninguém, e quero crer que nem mesmo Putin pretende usá-la. A resposta seria imprevisível. Aquele que fizer uso dela será condenado em todos os tribunais no mundo, e poderá ter um fim igual ao de Mussolini, na Itália. Dá para o Brasil se meter num cenário desses?

Por aqui esse teatro de guerra para dar posse a Maduro é suficiente.

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Aylê-Salassié F. Quintão –  Jornalista, professor, doutor em História Cultural, ex-guarda florestal do Parque Nacional de Brasília Vive em Brasília. Autor de “Pinguela: a maldição do Vice”. Brasília: Otimismo, 2018

Autor, entre outros, de Lanternas Flutuantes:
Português –   LANTERNA FLUTUANTES, habitando poeticamente o mundo
Alemão – Schwimmende-laternen-1508  (Ominia Scriptum, Alemanha)
Inglês – Floating Lanterns  
Polonês – Pływające latarnie  – poetycko zamieszkiwać świat  
novo livro de Aylê-Salassiê: TERRITÓRIO LIVRE!

 

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