começa a vida

Quando começa a vida? Por Adilson Roberto Gonçalves

… E se a vida começasse com a ovulogênese? A mulher já nasce com todos seus óvulos, que também passaram pelo processo de mitose e meiose, de especiação e amadurecimento. Ou seja, é possível datar o início da vida baseado apenas em células?…

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            E se a vida começasse com os espermatócitos? Afinal de contas, dividiruma célula diploide por mitose e depois por meiose, conservando todos os cromossomos, e ainda conferir-lhe mobilidade e resistência para viajar distâncias quase infinitas e penetrar em outra célula, rígida e fechada, é uma dádiva da vida.

            E se a vida começasse com a ovulogênese? A mulher já nasce com todos seus óvulos, que também passaram pelo processo de mitose e meiose, de especiação e amadurecimento. Ou seja, é possível datar o início da vida baseado apenas em células?

            A mudança constitucional proposta de mudar o início da vida para o momento da concepção carrega inúmeras consequências legais que não foram levadas em consideração pelos deputados. Parece que houve apenas um motivo ideológico para tal aprovação, o que é lamentável e perigoso.

            Uma mulher grávida pode abrir uma conta bancária em nome do nascituro que carrega? Se a constituição deu a esse nascituro igualdade de direitos a uma pessoa nascida, sim, ela pode abrir a conta. O feto pode ter um CPF, seguro de vida e ser arrolado como herdeiro legal, respeitada a condição de incapaz, como é o de uma criança nascida.

            Na discussão do aborto, uma corrente científica forte defende o limite das 12 semanas de gestação que coincide com a formação do tubo neural. A analogia é para a definição de morte encefálica, que se dá quando não há mais atividade cerebral. Segundo essa corrente de pensamento, a vida e a morte são definidas pelo cérebro. Sem cérebro não há sentimento e, portanto, não há vida.

            Se criam dúvidas de quando a vida começa, pelo contra-argumento sabemos quando a vida termina: quando a sociedade abandona crianças pelas ruas, deixa as meninas e adolescentes vulneráveis, aceita que elas sejam violentadas por pais, tios, irmãos, parentes, vizinhos e conhecidos, fecha os olhos para as mazelas causadas por gravidez indesejada. Aí termina a vida para essas crianças, e revela-se a falta de humanidade dessas pessoas, as mesmas que se arvoram em dizer que defendem a vida, quando estão legitimando o estuprador e ceifando a infância.

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Perfil ambiental e político – Adilson Roberto Gonçalves –  pesquisador da  Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista.  Vive em Campinas.

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