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O sono comprado na farmácia. Por Paulo Renato Coelho Netto

Das 24 horas do dia, dormimos oito. Portanto, 1/3 da nossa existência passamos dormindo. Mesmo para quem chega aos 90 anos, viveu apenas 60 anos. O sono impede quase todos de chegar à terceira idade…

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Adquirido na farmácia e levado para casa embalado em alumínio, enfileirado um ao lado do outro, em pequenas caixas de papel cartão.

Quantos fios egípcios o lençol de um milionário precisa para ele ter bons sonhos?

Quantas notícias precisamos não ler?

Com que sonha o homem que dorme na calçada, sobre uma folha de papelão e esquecido por Deus em frente às igrejas?

Este, que adormece por exaustão, em que momento chega ao sono REM para que os carros, as motos e as sirenes não o acordem?

Deve haver mais paz e conforto na cama de um pescador em frente ao mar do que sobre o colchão king size de um magnata solitário.

Quanta gente esbanjando sorrisos durante o dia com noites aterrorizantes e sem fim?

Sono de uísque, cachaça, cerveja e vodka, aquele que a cama roda junto com o mundo. A longa noite dos aflitos que vai das sextas-feiras aos domingos.

Sono a base de canabidiol (CBD).

Como dorme a mulher que, ainda jovem, deixou escapar o amor da sua vida para ficar com o provedor de sua existência? Com que sonha?

Os meninos da Candelária, da Praça da Sé, sobre os bancos de madeira das pracinhas do interior, contam balas como carneirinhos antes de dormir?

Uma noite sem dormir, ou mal dormida, resulta em uma única certeza: o dia seguinte será um pesadelo de olhos abertos.

A sabedoria do poeta Beto Guedes, na canção “Amor de Índio”, acalma e convida a sonhar. Lembra que o sono é sagrado / E alimenta de horizontes o tempo acordado de viver.

Dormir é cair para cima, dar um tempo do corpo para se entregar à leveza da alma. É se aconchegar entre as estrelas.

Das 24 horas do dia, dormimos oito. Portanto, 1/3 da nossa existência passamos dormindo. Mesmo para quem chega aos 90 anos, viveu apenas 60 anos. O sono impede quase todos de chegar à terceira idade.

Para os aflitos, a vida foi feita para se viver de olhos abertos.

Cavalos dormem em pé, tartarugas nos recifes, ursos hibernam, corujas buraqueiras se recolhem antes do sol nascer.

As fragatas, aves marinhas, dormem em pleno voo. Dormir voando. Quem poderia imaginar tanta liberdade em um único animal?

Por falta de pálpebras, as cobras dormem de olhos abertos.

O único animal insone é o ser humano.

Chá de camomila, meditação, banho morno antes de se deitar e chá de sumiço para não ser contaminado por chatos que sugam energia até de monge tibetano.

Dinheiro para pagar as contas, trabalho para ter dinheiro. Não jantar, apagar as luzes, evitar televisão no quarto sempre arejado.

O silêncio é primordial.

A cantora e compositora Dolores Duran escreveu a melhor definição de um sono perfeito na música “A Noite do Meu Bem”. Hoje eu quero paz de criança dormindo.

Nem as pedras dormem melhor que as crianças.

Dormir era tão simples que bastava fechar os olhos.

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paulo rena

Paulo Renato Coelho Netto –  é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.

 

capa - livro Paulo Renato

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