Dois pesos, duas medidas. Por Flavio F. de Figueiredo
Dois pesos, duas medidas… Experimente o consumidor da Enel atrasar o pagamento de uma simples conta. Em poucos dias ela é colocada em cartório de protesto, “sujando” o nome de quem pode apenas ter se distraído, por exemplo…
Há algum tempo as notícias referentes à precariedade do atendimento dado pela Enel aos consumidores ocupam espaço no noticiário. Além de registros dos fatos propriamente ditos, há manifestações de cunho ideológico de representantes dos mais diversos matizes.
Mas a verdade é uma só: a empresa não tem capacidade operacional para atender ocorrências em sua área de concessão. Medidas urgentes precisam ser tomadas pelos órgãos competentes.
Além dos já conhecidos apagões localizados, que chegam a durar dias e prejudicam desde as jornadas domésticas, até o tráfego e operações comerciais e de serviços de diversas naturezas, com prejuízos incalculáveis para a população, é enorme o descaso com que a infraestrutura é tratada.
Um exemplo flagrante é visível por qualquer pessoa que examine como estão ocupados os postes. Além das redes de energia elétrica e das instalações para iluminação pública, há uma faixa dos postes que é compartilhada para instalação de redes de telecomunicações e dados, por exemplo.
A concessionária é remunerada pelas empresas que ocupam essas faixas. Tem receita bastante importante com esses compartilhamentos. No entanto, essas faixas são ocupadas de forma desorganizada, desordenada, muitas vezes com dezenas de cabos amarfanhados, em clara afronta às disposições vigentes para compartilhamento dessa infraestrutura. Situação típica, aliás, observada em casas sem dono. No caso, com um “dono” que só quer faturar, sem se preocupar com a gestão e com os prejuízos que isso possa causar à cidade e aos munícipes, também nesse caso exemplificado do uso das faixas compartilhadas.
Essa quantidade inacreditável de cabos e equipamentos dão à cidade um aspecto horroroso, sendo que muitas dessas instalações estão abandonadas, sem uso há muitos anos. Além disso, é comum encontrarmos cabos soltos, atrapalhando tudo, a circulação de pedestres, riscos para ciclistas e motociclistas. Além de alguns ainda eletrificados.
E onde estão os dois pesos e as duas medidas do título deste artigo?
Experimente o consumidor da Enel atrasar o pagamento de uma simples conta. Em poucos dias ela é colocada em cartório de protesto, “sujando” o nome de quem pode apenas ter se distraído, por exemplo.
A empresa está no seu direito, e isso é inquestionável.
Fica claro, portanto, que para atender decentemente os consumidores, os investimentos ou os custos operacionais são reduzidos, prejudicando muito a eficiência do sistema.
No entanto, quando se trata de cobrar esses mesmos consumidores, esforços não são economizados, e aí a eficiência supera até mesmo a das empresas mais ávidas por dinheiro!
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FLAVIO F. DE FIGUEIREDO – Engenheiro Civil, Consultor. Autor e coordenador de vários livros sobre vistorias e perícias, nos quais é especialista. Conselheiro do IBAPE/SP – Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo. Diretor da Figueiredo & Associados Consultoria.