Unrwa. Por José Horta Manzano
No dia seguinte à criação de Israel, a ONU criou a Unrwa – Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio. Nestes 75 anos, essa agência vem garantindo assistência e proteção aos refugiados palestinos…
A resolução da ONU que repartiu o território palestino entre judeus e árabes criando o Estado de Israel (1948) foi o ponto de partida da desavença que dura até hoje na região. A questão é muito delicada e de difícil solução, por envolver dois povos que reivindicam o mesmo território.
No dia seguinte à criação de Israel, a ONU criou a Unrwa – Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio. Nestes 75 anos, essa agência vem garantindo assistência e proteção aos refugiados palestinos.
Estabelecidos em Gaza, em Israel (Cisjordânia ocupada), no Líbano, na Síria e na Jordânia, os postos da agência oferecem escolas, cuidados de saúde, ajuda alimentar, microfinanciamento, apoio legal à população desvalida, ou seja, a praticamente todos os árabes da região.
Com o pretexto de que haveria funcionários da Unrwa entre os terroristas do Hamas que atravessaram a fronteira e massacraram civis israelenses em outubro do ano passado, o parlamento de Israel acaba de aprovar o banimento da agência de todo o território do país.
Essa expulsão vale para a Cisjordânia (territórios ocupados) e para toda a Faixa de Gaza (ocupada de facto por Israel). Esses territórios abrigam justamente a população que mais carece de ajuda para sobreviver. Sem o amparo da Unrwa, o que significa sem remédios, sem escolas, sem alimentos, sem proteção contra agressões, há que temer pelo futuro desse povo infeliz.
A Unrwa se apoia numa grande organização de cerca de 27 mil funcionários. São financiados por dezenas de países ao redor do mundo; até o Brasil aparece entre os doadores (veja mapa que encabeça este artigo). No entanto, nem uma agência como esta, sustentada pelos EUA, pela China, pela Rússia, pela Índia e até pelo Brasil, poderá levar um prato de comida a quem tem fome naquele pedaço de mundo se Israel não deixar entrar.
Temos visto a ferocidade com que o exército israelense cuida da destruição de Gaza, prédio por prédio, quarteirão por quarteirão. Temos visto a desumanidade com que atacam escolas, hospitais e campos de civis refugiados. Temos visto a pontaria com que mandam pelos ares ambulâncias e civis que se locomovem em lombo de burro. Temos agora o banimento do único canal de ajuda de que dispunham os palestinos.
Fica um nó na garganta e uma insuportável impressão de estar assistindo a um meticuloso, planejado e organizado genocídio.
Nota
Uma das condições estabelecidas na Convenção de 1948 em que a ONU definiu o crime de genocídio é o item 3°:
“Submissão intencional do grupo [cujo extermínio esteja sendo executado] a condições de existência que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial”.
É o caso.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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Sabendo que haveria problemas, no dia seguinte cria um órgão para “corrigir”, ou administrar as consequências, com uma ” desavergonhada” postura. Sou a favor da criação e existência do estado de Israel, mas não dessa forma.
É verdade que acomodar dois povos numa terra só é pra lá de complicado. Nenhum acerto vai contentar a ambos.
Eu também gostaria de ver a solução com dois Estados, mas parece que está cada dia mais difícil. A Cisjordânia virou uma colcha de retalhos e a Faixa de Gaza está praticamente destruída.
Recebido de Charles Mady
Ou seja, sem solução. Imaginem o Lebensraum crescendo, sem ser contido, habitado apenas pelos “geneticamente” superiores. “Sem solução “ e uma forma de concretizar o Eretz Israel, dando tempo para , aos poucos, tomar aquilo tudo,não se importando com a eliminação do outro. Como literatura, cito o “Mein Kampf”, e a biografia de Goebbels. Todo o grupo humano que se julgou, ou se julga superior, teve um fim triste.
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Resposta a Charles Mady
Ai, que tristes lembranças, meu camarada!
Nessa guerra permanente do Oriente Médio, nunca tinha escolhido meu campo. Eu, que vivo longe e não tenho afinidade com nenhum dos lados, sempre achei que era tanto faz como tanto fez. Agora, com o que tenho observado de um ano a esta parte, estou começando a tomar antipatia por um dos lados. É pena, mas parece que eles fazem de propósito pra deixar o planeta enfezado.
Acredito que os israelenses estão armando um baita dum carma para si mesmos, uma tremenda onda de ódio que os vai perseguir pelas décadas que estão por vir. Os judeus da diáspora também vão acabar sentindo os respingos dessa antipatia. É de lastimar que isso aconteça pela ambição pessoal de um único homem: Benjamin Netanyahu, o Bolsonaro deles, aquele que manda o povo às favas só pra escapar da cadeia.