JOKER

JOKER: FOLIE À DEUX. O PERIGO DE TURBAS DESCONTROLADAS & DE CERTOS FILMES

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Dias atrás vi o filme de Joker: Folie à Deux de Joachin Phoenix revivendo a personagem que lhe deu um Oscar. Um filme de suspense psicológico como o original, só que este agora também é um musical. Um musical muito estranho, diga-se de passagem. Para isso incluíram no elenco a cantora/atriz Lady Gaga no papel de Harley Quinn. O filme é dirigido por Todd Phillips (o mesmo do original), a partir de um roteiro que coescrito com Scott Silver.

Levei dias ruminando sobre o efeito do filme em mim.  Como o anterior, também não gostei de Joker: Folie à Deux. Desde então não faltou quem jogasse pedras nele. Parece que muita gente também não curtiu. Creio porém que meus motivos são distintos do que os da maioria dos ex-amantes de Joker.

Quando o primeiro foi lançado em 2019, a maioria dos críticos adorou. Tanto que acabou rendendo 5 indicações ao Oscar e uma estatueta para Phoenix, de melhor ator. Na época não embarquei na caravana de adoradores. Cheguei a escrever a respeito:

“Saindo da sala de projeção (depois de assistir Joker), fiquei com uma pulga atrás da orelha. No banheiro, fazendo xixi, ouvi dois jornalistas italianos falando na sua língua, mas entendi a essência do que falavam – daqui a pouco vai começar um movimento de palhaços assassinos a surgir por aí.

Ri junto com eles, mas comecei a sacar o que havia me caído mal no filme. Do lado de fora do banheiro me esperavam meu filho, um amigo dele e meu caríssimo colega americano, Steve Goldman. Ele é um jornalista de primeira linha e um crítico cinematográfico excelente. Os jovens ficaram encantados com o filme, mas meu amigo Steve não ficou feliz. Como eu, ele não negou a qualidade do roteiro, do trabalho dos atores e a qualidade da produção, mas não gostou nem um pouco da mensagem do filme, que ele acusou de auto condescendente.

Quer dizer que agora, se você tiver tido uma infância miserável e uma vida dura, você terá direito a matar as pessoas que te tratam mal? – ele me disse. Apesar de ter gostado muito do filme, a ponto de recomendá-lo, tenho que admitir que, neste caso, o Steve está certo. “Uma obra artística pode ter muitas liberdades, mas ser imoral não é uma delas. Comunicadores de massa tem que tomar muito cuidado com o que transmitem, principalmente em obras dirigidas à grandes massas. Me senti assim ao ver Natural Born Killers (1994) de Oliver Stone e devo dizer que o único pecado de Joker é também esse. Sua mensagem é perigosamente imoral, principalmente para os tempos em que estamos vivendo de tanta injustiça social, mediocridade e imbecilidade política. Não podemos nos tornar assassinos sanguinários contra os imbecis que estão empurrando a humanidade ladeira abaixo. Tem que haver outro caminho.”  (https://cine–man.blogspot.com/2019/)

O pior da lucidez é que ela acaba sempre te deixando triste, exatamente porque você sabe que a tua visão, apesar de diferente da maioria, tem uma boa dose de verdade. Você torce para estar errado. E dói muito quando descobre que não está.

Sai do cinema ainda mais encafifado do que quando assisti ao primeiro. Gostei? Não. O filme, apesar de muito bem interpretado por Joachin e pela genial Lady Gaga – em números musicais que misturam Busby Berkeley, Fred Astaire e LSD – me deprimiu ainda mais.

Passados esses dias, lendo algumas críticas, conversando com meu filho (que novamente viu o filme ao meu lado) e seguindo as notícias sobre o conflito entre Israel e seus inimigos, comecei a ver o breu no fim do túnel.

A tese do primeiro filme era que Arthur Fleck, por ter sido maltratado desde a infância, e por ter ficado “sem direitos, vítima de políticas cruéis, segregação, expropriação e exclusão” teria justificativa para se enraivecer e matar com requintes de crueldade as pessoas que ele trucida na tela. E, por ter deixado de ser vítima e passado a vitimador, tornou-se o herói das massas oprimidas…

A citação acima entre aspas originalmente faz parte de um texto de Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional, justificando as ações injustificáveis do Hamas em outubro de 2023, mas casam perfeitamente com a mensagem subliminar do filme de 2019.

A personagem de Arthur Fleck, um sujeito aparentemente dócil e bem-intencionado, que só quer alegrar as massas com sua fantasia de palhaço e suas piadas (sem graça), torna-se o perigoso Jocker por culpa dos maus tratos da sociedade.

No final do filme, multidões de jovens revoltados causam tumulto e depredação pela cidade, inspirados na ação violenta da personagem, como se a única solução para diversos aspectos da insatisfação social fossem a violência e a destruição. O Joker passa a ser para esses jovens um símbolo de revolta em ação.

Pensando nos dois filmes fiz uma correlação, que certamente alguns dirão ser absurda. Assim mesmo aqui vai… Para mim os jovens fãs do Joker no filme e os jovens universitários que fizeram manifestações, nem sempre pacíficas contra Israel e os judeus, são muito parecidos. Baseados em perspectivas limitadas e maniqueístas, resolveram “atirar pedras” com um ímpeto assustador contra Israel e os judeus, com a expectativa irreal de que estariam ajudando a resolver o problema, quando na verdade apenas colocam mais lenha na fogueira.

Bob, irmão do Presidente assassinado John Kennedy, disse certa vez: “Uma multidão descontrolada ou incontrolável é apenas a voz da loucura, não a voz do povo.”

Bob Kennedy também foi assassinado em 1968, 5 anos depois de seu irmão, quando concorria à presidência. O assassino foi o palestino Sirhan Bishara Sirhan, em 1968.

Posso estar equivocado, mas sinceramente creio que as duas turmas – a do filme e a dos jovens universitários revoltados é muito similar.

O filme, porém, surpreende, pois, em lugar de Arthur Fleck, no fim do segundo filme, abraçar totalmente a personalidade do Joker e partir para liderar as massas revoltadas, ele se retrai, se retrata e resolve ser apenas ele mesmo. O que em si acaba com a paixão da tiete Arlequim e causa o fim do próprio Arthur. A turba violenta do filme não quer bom senso. Ela quer apenas ver a casa pegar fogo.

Os detratores de Israel também só querem isso. Eles querem ver o Estado judeu ser inexoravelmente empurrado para o mar, até que o ultimo residente se afogue no Mediterrâneo e o Oriente Médio finalmente se torne um oásis de paz e prosperidade para todos os árabes e, por conseguinte para o resto do mundo – por favor leiam esta última frase com uma boa dose de sarcasmo.

Seja como for, tanto Joker quanto Joker: Folie à Deux são dois filmes que não deveriam ter sido feitos. O primeiro por sua mensagem negativa e incendiária; o segundo, porque simplesmente não faz sentido.

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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo.

_________________________(DIRETO DE LOS ANGELES)

1 thought on “Joker: Folie à Deux. Por Wladimir Weltman

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