Bolsa Família, impasses e saídas. Por Angelo Castelo Branco
… O Bolsa Família e programas sociais similares têm sido ferramentas importantes no combate à fome e à pobreza no Brasil, especialmente nas regiões mais carentes. Contudo, se esses programas não vierem acompanhados de uma estratégia clara …
O Bolsa Família e programas sociais similares têm sido ferramentas importantes no combate à fome e à pobreza no Brasil, especialmente nas regiões mais carentes. Contudo, se esses programas não vierem acompanhados de uma estratégia clara de capacitação profissional para os beneficiários em idade produtiva, corre-se o risco de perpetuar a dependência e transformar tais iniciativas em instrumentos de manipulação política, servindo como uma ferramenta para compra de votos, especialmente em regiões onde as populações são mais vulneráveis e dependem desses auxílios. Sem a criação de oportunidades de inserção no mercado de trabalho, o ciclo de pobreza e exclusão social não será rompido.
O compromisso do Estado deve ir além da simples transferência de renda; ele precisa incluir, de forma paralela e indissociável, um compromisso bilateral de oferecer capacitação técnica e educacional para que as famílias possam conquistar autonomia e melhorar sua qualidade de vida a longo prazo. Caso contrário, o benefício tende a se perpetuar como uma medida assistencialista, sem perspectiva real de mudança estrutural para a sociedade.
É urgente que a gestão desses programas seja realizada por uma organização suprapartidária, livre de influências políticas que possam comprometer sua função social. Assim como ocorre com as agências reguladoras, uma entidade independente, com foco exclusivo na promoção da segurança alimentar e na erradicação da miséria, seria mais eficaz na execução dessas políticas. A politização excessiva de iniciativas voltadas ao combate à pobreza tende a desvirtuar seus objetivos, tornando-se um instrumento de barganha eleitoral em vez de uma resposta sólida às demandas humanitárias da população. Uma abordagem suprapartidária seria mais transparente e justa, além de promover o alinhamento com os interesses do conjunto plural da sociedade contribuinte.
Essa estrutura teria o potencial de criar uma rede de proteção social mais robusta, onde a oferta de capacitação seria um pilar essencial, proporcionando às famílias beneficiadas meios para conquistar dignidade e autonomia, e ao país, um caminho mais sustentável para erradicar a pobreza e a fome.
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Angelo Castelo Branco – Jornalista. Autor de O Artífice do Entendimento – biografia do ex-vice-presidente Marco Maciel. Recifense, advogado formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Membro da Academia Pernambucana de Letras. Com passagens pelo Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Diário de Pernambuco, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil, como editor, repórter e colunista de Política.