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As redes gigantes suíças de supermercados

Aviso…Está mais que na hora de os agrotrogloditas, como bem os descreve Elio Gaspari, desistam de desmatar para plantio ou criação de gado. Tem gente de olho, acompanhando o abate de cada árvore, para poder botar a boca no megafone…

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As redes gigantes suíças de supermercados

Aqui na Suíça, deu hoje no rádio, na tevê e nos jornais. Greenpeace, a poderosa e respeitada ong internacional, publicou o resultado categórico de uma investigação sobre a origem de certos produtos à base de carne vendidos pelas duas redes de supermercado que dominam o mercado suíço.

A ong fez uma acusação pesada às redes Coop e Migros, que, juntas, respondem por 70% do comércio de alimentos no país. As redes estão sendo acusadas de vender derivados de carne brasileira, como ‘corned beef’ por exemplo, proveniente de zonas desmatadas na Amazônia. Isso faz o efeito de uma pancada na moleira.

Faz tempo que os dois gigantes tinham se comprometido a não comercializar produtos provindos de áreas desmatadas. A investigação, bastante aprofundada, segue o caminho dos produtos incriminados, desde o pasto até as prateleiras dos supermercados. Assim, a acusação é plausível.

As redes de supermercados reagiram imediatamente. Por meio de porta-vozes, produziram explicações um pouco remendadas, dizendo que, veja bem, não é bem assim, há uma inexatidão de contexto, blá, blá.

Exatamente quatro anos atrás, em meados da gestão bolsonárica, eu já tinha escrito um artigo sobre esse fenômeno. Naquele momento, dei como exemplo o caso do azeite de dendê importado da Indonésia, produto acusado por muitos de resultar de uma política de intenso desmate.

O distinto público passou a procurar nas etiquetas se cada produto continha ou não o tal “óleo de palma”. Resultado: os fabricantes que conseguiram reformular seus produtos para deixar de conter esse ingrediente passaram a anotar na embalagem, bem visível: “No palm oil” – Sem óleo de palma.

Está mais que na hora de os agrotrogloditas, como bem os descreve Elio Gaspari, desistam de desmatar para plantio ou criação de gado. Tem gente de olho, acompanhando o abate de cada árvore, para poder botar a boca no megafone e balançar o coreto do lado dos eventuais compradores.

Não vai ser possível plantar e criar gado como se estivéssemos ainda nos séculos de antigamente. O cliente final de hoje quer ter mais informação sobre o que vai pôr no prato. Não se deixa mais engabelar assim tão fácil. Em breve, a legislação vai endurecer e o controle da origem das mercadorias deixará de ser feito na base da boa vontade. Vai ser enquadrado pela lei.

É aí que a porca vai torcer o rabinho.  (Toda alusão à salsicha de porco terá sido mera e fortuita coincidência.)

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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