Devagar, devagarinho. Por Arnaldo Niskier
… A primeira pergunta foi porque a paixão pelo livro: “É a vitamina que alimenta o leitor, e eu acredito muito nisso” – disse Martinho, naquele seu estilo “devagar, devagarinho”…
Com um prazer imenso, entrevistei o cantor e compositor Martinho da Vila no programa “Identidade Brasil” (Canal Futura). A primeira pergunta foi porque a paixão pelo livro: “É a vitamina que alimenta o leitor, e eu acredito muito nisso” – disse Martinho, naquele seu estilo “devagar, devagarinho”.
Falei do livro “Martinho da Vida”, em que música e poesia estão sempre presentes. Ele nasceu em Duas Barras, mas é carioca desde os 4 anos de idade. Presidente de honra da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, Martinho tem dedicado boa parte do seu tempo à defesa intransigente da questão da negritude. Coloca isso no seu livro de memórias.
Martinho tem também uma paixão revelada pelo futebol: é torcedor fanático do Vasco da Gama. Sabe de cor o nome dos seus principais jogadores e revela uma preferência incontida pelo Ademir da Guia (Queixada), seguramente um dos maiores ídolos da nau vascaína.
Foi militar, “para ganhar uns trocados”, e chegou ao posto de sargento. Tem um grande orgulho dos filhos e revela uma queda por Martinália, que canta e dança como ninguém. Lembra que ganhou uma disputa carnavalesca com a sua Unidos de Vila Isabel (homenagem a Kizomba). Não resiste a expressões africanas em toda a sua obra, onde aparecem termos que o ligam a países como Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
Martinho é casado com D. Cléo há mais de 30 anos – e é um homem plenamente feliz. Em matéria de composição, prefere receber a ajuda de parceiros letristas, pois tem mais facilidade em colocar música em seus originais. Foi assim que fizemos juntos a música “Mulher Sorriso”, que figura em seu último disco, lançado pela Sony. E promete pensar numa homenagem a Machado de Assis, autor do célebre poema “A Carolina”, em que homenageia a grande paixão, após a sua morte.
Machado era negro, sem dúvida nenhuma. Após a sua presidência, poucos negros entraram para a ABL. É por essa razão que Martinho se acha no direito de disputar uma próxima vaga.
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Arnaldo Niskier – Imortal. Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras. Professor, escritor, filósofo, historiador e pedagogo. Licenciado em Matemática e Pedagogia pela UERJ. Professor aposentado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras e secretário estadual de Ciência e Tecnologia e de Educação e Cultura do Rio de Janeiro. Presidente Emérito do CIEE/RJ.
Esse Ademir não é o da Guia, ídolo do Palmeiras até hoje, mas sim Ademir Menezes, artilheiro da Copa de 50 e o maior jogador do Vasco até aparecer Roberto Dinamite.