professor hoje

Meu nome é hoje. Por Meraldo Zisman

… As gerações de jovens de hoje são práticas. Basta ao leitor atento, sem precisar consultar tabelas do IBGE ou procurar no Google, intuir que cerca de 40% das famílias brasileiras são lideradas ou sustentadas por mulheres. Afirmar que o salário não é importante é ingenuidade, para não dizer algo mais forte…

professor hoje

De cada dez professores do ensino fundamental brasileiro, oito são mulheres. Será que o velho e cansado argumento ainda predomina na cabeça de nossas pedagogas, com a ideia fixa de que o ensino básico seria uma extensão da função materna? Será que permaneceram, como na Grécia Clássica, presos à crença de que o dever do homem (pai) é prover as necessidades da família, enquanto à mulher (mãe) caberia, atrelada aos afazeres domésticos, a responsabilidade pelo ensino dos filhos, como se isso fosse parte da condição feminina?

O que sei é que, para o bom desempenho de qualquer profissão ou ofício, é necessário, antes de tudo, ter vocação (tendência, inclinação, pendor, propensão, disposição, índole para o exercício). Afirmar que salário, posição social e ganhos diretos e indiretos não são importantes para quem trabalha é uma impostura. Quem assim discursa esquece que tudo tem seus limites.

Esqueçamos a poesia de Casimiro de Abreu (1839-1860) com seus famosos versos no poema Meus Oito Anos: “Oh! Que saudades que tenho/da aurora da minha vida, / da minha infância querida/que os anos não trazem mais! / Que amor, que sonhos, que flores, /naquelas tardes fagueiras, / à sombra das bananeiras, / debaixo dos laranjais…”. E da “minha professorinha querida”, agora chamada de “tia”, símbolo de quem, no passado, pertencia à outrora classe média brasileira. Continuo.

As gerações de jovens de hoje são práticas. Basta ao leitor atento, sem precisar consultar tabelas do IBGE ou procurar no Google, intuir que cerca de 40% das famílias brasileiras são lideradas ou sustentadas por mulheres. Afirmar que o salário não é importante é ingenuidade, para não dizer algo mais forte. Não se surpreendam se, em breve, “como solução para a salvação educacional nacional”, os editais de concursos públicos para professores do ensino fundamental incluírem cotas de gênero para pessoas nascidas do sexo masculino. Se isso ocorrer, e considerando o cenário atual, é quase certo que as mídias sociais (Twitter, Facebook, WhatsApp) e as profissionais (TV, rádio, jornal) não perderão a oportunidade de promover debates, nos quais surgirão cientistas políticos ao lado de profissionais da área ‘psi’: psicólogos, psicopedagogos e, inevitavelmente, os que superficialmente se aventuram nesses temas, além dos habituais defensores da liberdade de opinião.

O cenário ainda contaria com amplo espaço para os holofotes midiáticos, prontos para atender àqueles em busca de seus 15 minutos de fama.

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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
Relançou “Nordeste Pigmeu”. Pela Amazon: paradoxum.org/nordestepigmeu

1 thought on “Meu nome é hoje. Por Meraldo Zisman

  1. Dr. Meraldo,
    Ratifico a pertinência dis assuntos trazidos em seys artigos no Chumbo Grosso. Concordo, o verbete ” tia” , somente aplicado ao ensino a mulheres e no ensino fundamental. Independente do gênero, é factual a distância dos responsáveis das crianças, quer da instituição de ensino quer em sua própria casa enquanto não casa própria. Persista nos brindando com tais abordagens médico, acadêmico e amigo. E, Parabéns pelo natalício nessa sexta-feira 27/09! Saúde.

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