Filhos. Por Paulo Renato Coelho Netto
… Independentemente da idade, filhos talvez percebam melhor o mundo de agora que nós, que imaginamos entendê-lo melhor que eles….
Uma kombi leva quatro passageiros em cada banco traseiro. São dois assentos atrás. Se pude$$e, teria oito filhos. O suficiente para dez passageiros no carro, contando os pais. Todos rumo à praia no verão escaldante que se aproxima.
Independentemente da idade, filhos talvez percebam melhor o mundo de agora que nós, que imaginamos entendê-lo melhor que eles.
Não sabemos e eles também talvez não saibam. A diferença é que terão mais tempo para descobrir, até que baixe a fuligem das queimadas, a indiferença e o individualismo entre as pessoas.
A ignorância precisa ser banida da Terra ou o nosso planeta será banido pela ignorância.
O fato é que, no geral, tudo está muito bizarro. A isso dão nomes estranhos e elaborados, como geopolítica, por exemplo, ciência que estuda as atrocidades que o homem comete contra o próprio homem.
O que importava tanto para outras gerações é motivo de completo desdém para as atuais.
O automóvel é um exemplo. Irmãos disputavam o mesmo carro no braço, principalmente aos sábados à noite e nas tardes de domingo.
Valia tudo. Desde sair de casa enquanto o outro tomava banho a desaparecer com as chaves.
Geralmente, a desinteligência era resolvida após amplas discussões nada diplomáticas ou na base do este sábado o carro é meu, no outro é seu.
Neste novo milênio, não são poucos os jovens que não sabem e não querem dirigir, mesmo após os 20 anos. Preferem carona ou Uber.
Estão certos. No geral, o trânsito é caótico. A cada ano fabricam milhares de carros que vão disputar as mesmas ruas estreitas de sempre. Automóveis agora são camelos que tentam passar pelo buraco da agulha.
Filhos mostram o quanto entendo pouco sobre o mundo que vivemos. Diante deles, me sinto tão desatualizado que a impressão que tenho é que não vou morrer, mas serei extinto por um meteoro.
E o mais interessante é que não faço questão de entender mais nada. Concordo com o poeta Manoel de Barros, que escreveu. “Entender é parede; procure ser árvore.”
Geralmente, qualquer grande dificuldade que um pai de 40 anos encontra em um tablet um menino de 7 anos resolve em menos de dez segundos enquanto assiste televisão.
É puro Charles Darwin. Eles são mais evoluídos.
Quando um filho diz que quer ver o Matuê a primeira coisa que me vem à cabeça é para qual planetário devemos ir. Desconheço a maioria dos músicos novos.
Lembro bem quem foi Roberval Taylor, personagem de Chico Anísio, mas a Taylor Swift só tomei conhecimento em 2023, quando ela se apresentou no Brasil.
Só prestei atenção por causa da minha filha, caso contrário a cantora teria passado sem despertar a menor curiosidade.
E assim acontece, como tantas coisas que eles indicam e ensinam, quase sempre sem querer.
Não admitem piadas politicamente incorretas que cresci assistindo na televisão em rede nacional.
O que era normal para nós, hoje para eles é inaceitável.
De certa forma, observando como vivem, é possível imaginar um mundo melhor no futuro.
Acredite em quem recicla lixo e ideias.
Filhos são a ponte entre as escamas jurássicas e as novidades que o telescópio James Webb ainda vai revelar.
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Instagram: @paulorenatocoelhonetto
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.