murro em ponta de faca

O capitão quer que o juiz seja destituído de suas funções e, se possível, que seja condenado a apodrecer numa masmorra. Puro murro em ponta de faca.

murro em ponta de faca

Tem uma expressão conhecida, clara, usada com frequência e que carrega uma imagem doída do que nunca se deve fazer: dar murro em ponta de faca. Ui! Precisa ser demente pra fazer um negócio desses, não lhe parece?

Pois Jair Bolsonaro, nosso saudoso ex-presidente, está dando mostra de sua especial disposição para o sacrifício. Seria heroico, não fosse inútil. O capitão chegou ao cúmulo de convocar um comício no dia 7 de Setembro para dar publicidade a seu ato de coragem.

A multidão não veio tão compacta como costumava vir no passado, mas a mise en scène seguiu à risca o que tinha sido ensaiado. Os protagonistas principais discursaram, cada um dando sua contribuição e botando falatório para plateia cativa.

Quanto ao ex-presidente, abdicou do cargo de messias, posto ao qual se tinha autopromovido no passado. Deixou claro que sua única preocupação atualmente é salvar a própria pele e escapar dos processos a que responde. “O povo que se dane, eu quero mais é tirar Alexandre de Moraes do meu caminho” – ele não pronunciou exatamente essas palavras, mas elas resumem seu pensamento.

O capitão quer que o juiz seja destituído de suas funções e, se possível, que seja condenado a apodrecer numa masmorra. Puro murro em ponta de faca. Jair não se dá conta das consequências de sua insistência.

Quanto mais o capitão vocifera contra o juiz, mais forte este fica. Tão forte ele está se tornando, que foi a estrela do desfile oficial do Dia da Independência. Apareceu sorridente e prestigiado, ao lado do presidente e dos figurões da República.

Quanto mais o capitão bate no juiz, mais se reforça o corporativismo do STF. Ainda que, numa hipótese de probabilidade quase nula, Moraes fosse destituído, mais coesos e ressentidos ficariam os magistrados restantes. Um perigo, capitão!

Da justiça, vai ser difícil Jair escapar. Seus esperneios mais irritam que ajudam. Atacar e insultar aqueles que vão te julgar é péssima ideia. Percebe-se que os anos passaram, mas o capitão nada aprendeu: continua vociferando como quem acha que se ganha no grito. Não se ganha, capitão.

Se ele não aprendeu até hoje, é caso sem esperança.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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