É Natal na Venezuela. Por José Horta Manzano
Depois de aproveitar a ocasião para açoitar os “sabotadores” e os “fascistas” que tentaram, sem sucesso, atacar a nação, anunciou o prêmio maior: este ano, o Natal venezuelano muda de data.
“Está chegando setembro, e graças ao fato de termos encerrado o mês de agosto com boas perspectivas econômicas, podemos dizer que [o ar] já traz um cheiro de Natal”.
Quem disse isso, em seu programa semanal de televisão, foi o presidente da Venezuela, señor Nicolás Maduro. Até aí, a declaração podia não passar de mais uma autolouvação, comum entre mandatários. Mas ele foi adiante.
Depois de aproveitar a ocasião para açoitar os “sabotadores” e os “fascistas” que tentaram, sem sucesso, atacar a nação, anunciou o prêmio maior: este ano, o Natal venezuelano muda de data. Em vez de ser comemorado no tradicional 25 de dezembro, fica reagendado para 1° de outubro, daqui a um mês.
A mídia do país, que calça luvas para tratar de assuntos ligados à alta cúpula, não disse nem sim, nem não, muito pelo contrário. Ninguém ousou denunciar o tragicômico da situação. Ninguém teve coragem de lembrar que, dado que é festa religiosa católica, só quem tem o direito de modificar a data do Natal é o Vaticano – que, aliás, não mexe no assunto há séculos.
Nas entrelinhas dos veículos, perdido entre comentários de leitores, está o desabafo de um cidadão segundo o qual, num momento em que muitos não têm o que comer, não fica bem decretar que este ou aquele dia é dia de festa. É indecente.
De fato, na terra dos amigos de Lulamorim, cidadãos passam fome. E o tirano que os domina e constrange pelo medo tem delírios dignos de um Musk.
A diferença é que Musk é um rei sem reino, enquanto Maduro é rei com coroa, manto e cetro. E um povo inteiro pra chamar de seu e pra oprimir.
________________________
JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
______________________________________________________________