Fernanda Montenegro e Simone de Beauvoir. Por Arnaldo Niskier
Fernanda encontra tempo para se dizer feminista, embora distante de ativismos ou posições extremas. E lembra de Fernando Torres, com quem foi casada por longos 56 anos: “Tive um homem comigo que era muito generoso. Se houve algum desassossego naquela alma, jamais percebi.”
É incrível a fidelidade do público à atriz Fernanda Montenegro. Casas lotadas em São Paulo para assistir às suas leituras da obra de Simone de Beauvoir. Aos 94 anos de idade, com a memória perfeita, ficou um mês em cartaz no Teatro Raul Cortez, no Sesc 14 Bis, com ingressos esgotados e filas de espera.
Era a obra “A cerimônia do adeus”, cuja leitura deu à acadêmica carioca a sensação de não ter envelhecido, “embora eu esteja instalada na velhice”. O seu desejo é claro: “Não quero mais do que viver sem tempos mortos.”
Segundo Fernanda, o trabalho é cerebral como todo bom pensamento francês: “Acho que a humanidade vai do coração para o cérebro, mas o francês não, é do cérebro para o coração.” No intervalo de um genial espetáculo de Othon Bastos (91 anos), Fernanda encontra tempo para se dizer feminista, embora distante de ativismos ou posições extremas. E lembra de Fernando Torres, com quem foi casada por longos 56 anos: “Tive um homem comigo que era muito generoso. Se houve algum desassossego naquela alma, jamais percebi.”
Fernanda trabalha desde os 15 anos, com um início dedicado às radionovelas, precursoras das telenovelas que consagraram a Rede Globo. Ela é citada com muitos elogios no livro recém lançado pelo Boni, a propósito da sua carreira.
É incrível, de todo modo, que não se submeta a qualquer esquema de descanso. Vai se dedicar a um filme dirigido pelo filho Cláudio Torres, com o título “Velhos Bandidos”, vivendo o personagem ao lado de outro craque que é o ator Ari Fontoura.
E topou o projeto que lhe apresentei, “Um livro em meia hora”, de Jonas Suassuna, de leitura de obras clássicas da literatura universal, dividindo essas tarefas com outro nome de grande respeito, que é o locutor Cid Moreira. Faremos uma boa seleção de obras, a partir dos trabalhos de Machado de Assis, para que ela possa ser o que sempre pretendeu: “O máximo possível de mim mesmo.”
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Arnaldo Niskier – Imortal. Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras. Professor, escritor, filósofo, historiador e pedagogo. Professor aposentado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras e secretário estadual de Ciência e Tecnologia e de Educação e Cultura do Rio de Janeiro. Presidente Emérito do CIEE/RJ.