a presença dos ausentes

A presença dos ausentes. Por Antônio Claudio Mariz de Oliveira

Presença… As recordações que familiares e amigos me trazem e que os coloca presentes em minha vida, apesar de suas ausências, levam-me à repetida indagação: por que eles se foram? Indagação sem resposta…

A presença dos ausentes

PUBLICADO EM "MARIZALHAS", MIGALHAS, 
EDIÇÃO DE 27 DE AGOSTO DE 2024

É incontável o número daqueles que povoaram a nossa existência, mas já se foram. Parentes próximos ou distantes; amigos das várias épocas de nossas vidas e os da vida inteira; há no rol também os conhecidos, com quem tivemos maior ou menor convivência, mas que ainda provocam lembranças.

Animais gregários que somos, nossa necessidade de nos relacionar e interagir com outros nos desperta sentimentos variados em relação aos que se tornam nossos próximos. Simpatia, afinidades de diversas naturezas, culturais, esportivas/clubísticas, ideológicas, sociais, de vizinhança, profissionais e tantas e tantas outras. Eu diria que a empatia ou antipatia por alguém muitas vezes não possui nenhuma razão concreta, detectável. Simpatiza-se ou não e ponto. O afeto; a empatia; a atração, por vezes independem de qualquer afinidade ou identidade.

Na vida de cada um de nós existem os núcleos que centralizaram as nossas amizades, cultivadas no curso dos anos. No meu caso eu aponto a rua Stella, na Vila Mariana/Paraiso, onde formamos desde a infância uma turma, a Turma Stella, cujos remanescentes até hoje se reúnem. Convivem, aproximadamente há mais de setenta anos. Alguns estudaram no mesmo colégio onde se conheceram no jardim da infância. Eu sou um deles. Outro polo agregador no meu caso foi a Faculdade de Direito da PUC e a Advocacia. Nesses três locais posso afirmar ter criado o meu arsenal de amigos e companheiros de jornada.

As recordações que familiares e amigos me trazem e que os coloca presentes em minha vida, apesar de suas ausências, levam-me à repetida indagação: por que eles se foram? Indagação sem resposta. Em seguida assalta-me um questionamento em relação ao tempo: fala-se que o tempo “fechou”; que o tempo “abriu”; que o tempo “passou”; que o tempo é “implacável”. Ah! Como eu gostaria que me dissessem que o tempo “parou”.  Parou e não levou ninguém. Os nossos eternos presentes jamais estariam ausentes.

Esse meu anseio está ligado a uma marca do envelhecimento, melhor dizendo, do passar dos anos, que são as perdas. Claro, quanto mais marcha o tempo mais ele carrega consigo os nossos queridos. Como todos eles deixaram rastros aflora o sentimento de suas perdas. Mas, paradoxalmente, as suas ausências nos trazem as suas presenças. É muito bom que assim seja.

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*Antônio Claudio Mariz de Oliveira é advogado criminalista, da Advocacia Mariz de Oliveira. Mestre em Direito Processual pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Conselheiro no Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), membro da Comissão de Direito Penal do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) e atuou como Secretário de Justiça e Secretário de Segurança Pública de São Paulo nos anos 1990. Foi presidente da AASP e da OAB-SP por duas gestões. 

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