Brasil e como não tratar a natureza. Paulo Renato Coelho Netto
Brasil: nossa principal contribuição para o aquecimento global é derrubar e queimar florestas do porte da Amazônia e biomas preciosos e frágeis como o Pantanal e o Cerrado…
Nas últimas quatro semanas as temperaturas oscilaram entre 32 ºC e 7 Cº, subiram para 36 ºC, caíram para 12 ºC e vão superar 35 ºC neste fim de semana aqui em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Nesta segunda-feira, 2 de setembro, uma nova onda de calor deve chegar, piorando o que já está insuportável no Centro-Oeste.
A partir de terça-feira (3), o termômetro vai marcar 38 ºC e, de 10 em diante, 39 ºC por vários dias seguidos, de acordo com o Climatempo. As temperaturas devem passar de 40 ºC em algumas cidades de Mato Grosso do Sul.
Se essas variações forem consideradas normais, precisamos rever o conceito de normalidade.
A umidade relativa do ar em Campo Grande chegou a 10%. No deserto do Saara a umidade do ar costuma variar entre 14% e 20%.
É comum encontrar pessoas com dor de cabeça sem saber o motivo.
Estamos no inverno. Altas temperaturas não são naturais nem na primavera, que chega em setembro, com previsão de calor intenso.
O Pantanal, ao nosso lado, agora tem duas estações do ano: do fogo e a outra.
Os aeroportos de Goiânia e Brasília, aqui na região Centro-Oeste, tiveram voos desviados ou cancelados no domingo (25) por causa da fumaça de incêndios no Pantanal, Amazonas e São Paulo.
Aulas foram suspensas em algumas cidades no interior paulista, que até então só via fogo pelos telejornais e nos sites de notícias.
Na quarta-feira, 28 de agosto, o colunista do UOL, Carlos Madeiro, publicou que o sul da Amazônia está literalmente incendiando.
O fogo se alastra por 500 quilômetros de comprimento e 400 quilômetros de largura (reprodução na imagem acima de satélite), compreendendo áreas da Bolívia, Rondônia, Amazonas e Mato Grosso.
Para se ter noção do tamanho do estrago, a distância entre São Paulo e Rio de Janeiro é de 430 quilômetros pela Rodovia Presidente Dutra (BR-116).
Além do calor, a falta de vento torna tudo ainda pior, uma sensação de sufocamento.
No horizonte a fumaça das queimadas, geralmente, é confundida com poeira.
Não há saúde que aguente.
Praticamente todos andam com uma garrafinha de água pelas ruas. Ainda assim, os lábios ressecam pouco tempo após a hidratação.
Acabamos de presenciar a enchente histórica em Porto Alegre que atingiu praticamente todas as cidades gaúchas.
Segundo relatório da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, atualizado no dia 20 de agosto, 27 pessoas ainda estão desaparecidas, 806 ficaram feridas, mais de 2,3 milhões foram afetadas em 478 municípios, com 183 mortes confirmadas.
De acordo com a Nações Unidas Brasil, “mudanças climáticas são transformações a longo prazo nos padrões de temperatura e clima”.
Ocorre que longos prazos estão ficando menores a cada ano que se passa.
Até a definição sobre mudanças no clima precisa ser repensada, além da nossa forma predatória de viver.
Ainda segundo as Nações Unidas, “as consequências das mudanças climáticas agora incluem, entre outras, secas intensas, escassez de água, incêndios severos, aumento do nível do mar, inundações, derretimento do gelo polar, tempestades catastróficas e declínio da biodiversidade”.
Basta olhar em volta, além da sua cidade, região e país.
Na última terça-feira, 27 de agosto, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que os níveis médios globais do mar estão subindo a taxas sem precedentes, considerando os últimos 3.000 anos.
“O oceano está transbordando, disse Guterres. As mudanças aqui na região do Pacífico são visíveis desde minha última visita. E, em todo o mundo, a elevação do nível do mar tem um poder inigualável de causar estragos nas cidades litorâneas e devastar as economias costeiras. O motivo é claro: os gases de efeito estufa – gerados principalmente pela queima de combustíveis fósseis – estão cozinhando nosso planeta”.
Em todo o mundo cerca de um bilhão de pessoas vivem em áreas costeiras, de ilhas baixas a megacidades; de deltas agrícolas tropicais a comunidades do Ártico, informa António Guterres.
Mais da metade da população brasileira vive perto do litoral. Somos 212,5 milhões de habitantes.
Nossa principal contribuição para o aquecimento global é derrubar e queimar florestas do porte da Amazônia e biomas preciosos e frágeis como o Pantanal e o Cerrado.
Entra e sai governo o Brasil mostra ao mundo como não tratar a natureza.
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Instagram: @paulorenatocoelhonetto
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.