Locarno, que filme ganhará o Leopardo de Ouro? Por Rui Martins

cinema Locarno

Amanhã, 17, aqui no Festival de Cinema de Locarno, saberemos qual dos dezessete filmes apresentados na Competição Internacional ganhará o Leopardo de Ouro. Seria temerário fazer uma previsão, pois diversos filmes, embora diferentes no tema e na estrutura, podem aspirar esse prêmio.

São raras as vezes em que um filme consegue unanimidade da crítica. Foi o caso, há cinco anos, da produção portuguesa, Vitalina Varela, dirigida pelo realizador Pedro Costa. Houve unanimidade mesmo entre os jurados, contou a presidente do júri da época, a francesa Catherine Breillat.

Este ano, para evitar o vexame de errar, o melhor é citar alguns filmes prováveis escolhidos pelo júri, mas sem descartar os não mencionados. Neste caso, vou me basear na minha sensibilidade provavelmente diversa da dos cinco jurados de formação e nacionalidade diferentes.

A presidente do júri é a cineasta austríaca Jessica Hausner, acompanhada da produtora belga Diana Elnaum, da cineasta indiana Payal Kapadia, do ator italiano Luca Marinelli e do ator, produtor e cineasta norte americano Tim Blake Nelson. Maioria feminina, como se vê.

Já comentei Salve Maria, filme espanhol, da realizadora Mar Coli, um thriller sobre a depressão pós-parto, mostrando a rejeição do bebê por uma jovem mãe. O tema é de atualidade.

Saindo de comportamento e psicologia, há o filme Qing chun sobre trabalho operário, coprodução da França com Holanda e Luxemburgo dirigida pelo chinês Wang Bing, já premiado em 2017 com o Leopardo de Ouro. Mostra a situação de trabalhadores e  trabalhadoras em ateliers de costura, na cidade chinesa de Zhili, sem proteção trabalhista e em situação semelhante à de escravos.

Dois filmes dedicados às relações familiares podem ser citados: O Pardal na Chaminé, filme suíço dedicado a uma família com relações deterioradas, e Seses, filme lituano com uma família que se poderia definir como normal, afetada com o quase afogamento da filha menor num lago, seguido de um acidente de automóvel com o pai e marido.

Já comentamos Transamazônia com sua jovem curandeira e os choques dos indígenas com os madeireiros destruidores da floresta.

Há o filme português Fogo do Vento, de Marta Mateus, elogiado por alguns como filme onírico, irreal, fantástico, numa alegoria crítica ao capitalismo, onde os trabalhadores na vindima são atacados por um touro, referência imagino ao touro de Wall Street representando o mercado financeiro.

Linha Verde é um filme sobre as lembranças de uma jovem libanesa da cidade de Beirute durante a guerra nos anos 80. E o filme turco Yeni Safak Solarken com um jovem desorientado e desesperado, circulando por Istambul e mostrando, sem ser esse o objetivo do filme, as belezas da cidade e suas mesquitas com uma música de fundo melhor que o enredo.

E o filme Lua, onde uma professora de artes marciais tem três jovens alunas na Jordânia, filhas de família riquíssima, mas vivendo seu luxo numa espécie de prisão.

Por Rui Martins, convidado pelo Festival de Cinema de Locarno.


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Salve Maria - film review

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DIRETO DA SUIÇA


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Rui Martins – Direto da Suiça – é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI

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