Falecimento dos famosos

Falecimento dos famosos. Por José Horta Manzano

Acaba de sair a notícia do falecimento de Antônio Delfim Netto, economista que se achegou ao regime militar e chegou a ser todo-poderoso ministro da Fazenda por sete anos. Sua carreira não parou aí…

Falecimento dos famosos

Quando um personagem famoso morre de repente, na flor da idade, sem que ninguém pudesse imaginar, a mídia traz imediatamente, na manchete, o acontecido. Já o obituário propriamente dito, com a cronologia dos feitos e malfeitos do falecido, só vem no dia seguinte. Precisa dar tempo aos jornalistas de passar do susto à pesquisa.

Já quando falece um famoso de idade avançada, é diferente. Foi como quando morreu a rainha Elizabeth: na hora seguinte ao anúncio, todos os jornais, portais e revistas traziam um longo obituário, completo, com fotos, relatando desde a infância da ilustre falecida. Vê-se que os textos já estavam preparados, cochilando numa gaveta.

Acaba de sair a notícia do falecimento de Antônio Delfim Netto, economista que se achegou ao regime militar e chegou a ser todo-poderoso ministro da Fazenda por sete anos. Sua carreira não parou aí. Na sequência, foi embaixador do Brasil em Paris, ministro da Agricultura, ministro do Planejamento e ainda deputado federal. Esteve na política durante a ditadura e, enterrada esta, continuou no Congresso por mais dez anos.

Como ocorre com famosos que falecem “entrados em anos”, Delfim teve direito a obituários imediatos. Todos os veículos entraram com um ou mais artigos longos dedicados ao relato da vida desse senhor. Nem todos os escritos mostram grande simpatia por ele, forçoso é dizer.

Por minha parte, pouco conheci Delfim Netto. Não morava no Brasil na época do “milagre econômico” nem do famigerado AI-5, coassinado por ele. O único ponto em comum que tivemos, anos mais tarde, foi frequentar o mesmo alfaiate. Os mais jovens talvez nunca tenham visto uma alfaiataria; aliás, nem sei se ainda existem esses ateliês. Nosso alfaiate era o Sr. Fusaro, que tinha lojinha na região do Cambuci, em São Paulo, onde Delfim tinha nascido e crescido. Tenho até hoje um terno feito lá em 1985. Ainda serve.

Dizem que não se deve falar mal de quem já morreu. Mas não acredito que todos os que morrem viram santos imediatamente. Então, lá vai.

Quando Delfim Netto era embaixador do Brasil em Paris, corria, à voz pequena, um boato insistente. O homem teria o apelido de “Monsieur 10%”. A razão era o valor da propina que ele cobrava de todos os grandes negócios que se fechavam entre fornecedores franceses e o Estado brasileiro.

Não sei se é verdade. Era uma época de muitos (e bem guardados) segredos…

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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