TEMPOS ESTRANHOS

Tempos estranhos. Por Paulo Renato Coelho Netto

Tempos estranhos…Adoraria ter a mínima noção sobre o futuro. Será que alguém tem?

TEMPOS ESTRANHOS

Há algumas semanas tenho pensado sobre como a vida mudou radicalmente nos últimos anos. Talvez, inconscientemente, procure respostas sobre quais caminhos a humanidade vai optar.

Adoraria ter a mínima noção sobre o futuro. Será que alguém tem?

Como serão educadas as crianças? O acesso à educação ainda será restrito a uma casta de privilegiados mundo afora? Quais trabalhos serão sustentáveis? Quais carreiras seguir? Quais nem tentar por terem se tornado obsoletas?

Quais profissões que sequer existem serão as mais disputadas pelas oportunidades que vão oferecer?

Como será o clima? A Amazônia brasileira será o novo cerrado, coberta de eucaliptos, gado e soja? Sustentabilidade deixará de ser apenas uma palavra para ser adotada na prática?

Os vigaristas ainda darão as cartas?

Terão servido a última sopa do último chifre do último rinoceronte?

Tudo agora acontece em uma velocidade estonteante. Tempos surpreendentes.

Lembro-me bem que no fim da tarde, ao sair da escola, comentei com meu pai que aquele ano havia se passado muito rápido.

Era dezembro de 1974. Em um piscar de olhos, lá se foi meio século.

Na mesma proporção que damos saltos na tecnologia, agimos como vespas humanas na eterna queda de braço na qual os mais fortes aniquilam os mais fragilizados.

Aniquilar no sentido de tirar do mapa, o grande sonho de Adolf Hitler em relação aos judeus, deficientes físicos e mentais, homossexuais, poloneses e ciganos, entre outros.

O tratamento à bala que os índios guaranis e kaiowas têm recebido na zona rural de Douradina, região sul de Mato Grosso do Sul, decorre do fato de que uma parcela da sociedade entende que ali não é o lugar deles.

Ou sai ou leva chumbo.

A violência come solta em Douradina enquanto o James Webb detecta, neste exato momento, bilhões de novas galáxias pelo espaço.

Espaço onde mora Nhanderu, considerado o Ser criador na mitologia tupi-guarani, reconhecido pelos nativos como nosso primeiro pai.

Não seria minimamente razoável ter como parâmetro de evolução o telescópio mais poderoso construído pela inteligência humana para resolvermos problemas humanos na face da Terra?

Quem pode o mais, pode o menos.

John Lennon compôs a música Imagine, em 1971, muito provavelmente porque nunca participou de uma reunião de condomínio.

Qualquer ser humano normal sai de uma reunião de condomínio convicto de que a humanidade não tem mais solução.

O mundo melhor proposto na letra Imagine seria utopia do artista se considerarmos que a música foi feita no ano seguinte após o fim do Beatles. Nem eles se entenderam.

A banda acabou oficialmente em 1970.

O James Webb revelando maravilhas e nós remoendo velhos problemas e criando novos para não perder o costume.

O Oriente Médio sob mísseis e assentado sobre ogivas atômicas.

Recebo vídeos de cidadãos ingleses de ultradireita em vias de fato com migrantes muçulmanos. O motivo? Muçulmanos não são ingleses.

Candidatos se elegendo pelo mundo para diversos cargos simplesmente por defender o ódio, o tosco e o desumano.

Atrocidades como imitar rindo pacientes asfixiando e morrendo de coronavírus, em plena pandemia mundial, fazem estrondoso sucesso em uma parcela cada vez maior da desumanidade.

Tempos estranhos.

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Instagram: @paulorenatocoelhonetto

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paulo rena

Paulo Renato Coelho Netto –  é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.

 

capa - livro Paulo Renato

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