Meia democracia não vale de nada. Por João Zisman
De que adianta empunhar a bandeira da democracia em um momento e legitimar um governo ditatorial, quer seja de direita ou de esquerda, como no caso da Venezuela?
Estranhamente a eleição presidencial da Venezuela, se prestou a comprovar que os antagonistas da política brasileira defendem ferozmente e de acordo com suas conveniências, o livre direito de se oporem uns aos outros, embora pouco importe o objeto da discussão, afinal o que vale é estar contra a posição um do outro.
Em sã consciência não há como considerar o resultado da eleição venezuelana como idôneo, bem como tentar coletar DNA democrático do sangue de Nicolás Maduro. Com gestos largos e ensaiados, Maduro interpreta como um canastrão, o papel de líder amado pelo povo e incansável defensor dos ideais bolivarianos. Mentiroso! O país e sua população estão amargando há muito, a pobreza e a supressão das liberdades civis.
Na verdade, é impossível estabelecer qualquer parâmetro entre os recentes processos eleitorais dos Estados Unidos e do Brasil, com o que aconteceu ao longo das últimas farsas eleitorais venezuelanas, afinal não há como se comparar Estados democráticos com regimes autoritários ditatoriais.
No entanto, por agora, atentemo-nos apenas as divergências casualistas que sustentam posições da ideologia “do contra”; senão, vejamos: o atual governo brasileiro, eleito apesar de concorrer no corner da oposição nas eleições de 2022, sem a máquina governamental a seu favor, foi acusado de ganhar eleições na “mão grande”, beneficiado pela suposta manipulação do resultado nas urnas eletrônicas, que segundo o então presidente e agora ex-presidente Jair Bolsonaro, não mereciam qualquer confiança por não serem auditáveis, nem emitirem o comprovante impresso do voto eletrônico do eleitor. Vejam que o sistema de votação na Venezuela atenderia aos anseios de Bolsonaro e seus seguidores, afinal o cidadão venezuelano recebeu o tíquete impresso do seu voto, entretanto, nem mesmo assim se observou a garantia da lisura do processo eleitoral venezuelano aos olhos da grande maioria do mundo. Concluo que não existe outra palavra para definir o que se passou na Venezuela que não fraude eleitoral.
Enfim, o que se mostra como um absurdo do tamanho de uma fraude é a complacente posição do Estado brasileiro e o açodamento do PT, partido do presidente da república, em reconhecer a legitimidade da eleição de Maduro. De que adianta empunhar a bandeira da democracia em um momento e legitimar um governo ditatorial, quer seja de direita ou de esquerda, como no caso da Venezuela?
O fato é de que um país inteiro não pode ficar refém de qualquer tipo de posicionamento em nome da nação, que mesmo em linguagem diplomática, aponte para uma aceitação de mandos, desmandos e artimanhas antidemocráticas.
Como unir um país que permanece politicamente dividido, quando o Estado não se manifesta categoricamente, e em todas as frentes, contra aqueles que atacam a democracia mundo afora?
Por fim, entendo que meia democracia é o mesmo que democracia alguma.
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JOÃO ZISMAN – Economsta e Jornalista. Vive em Brasília.
Muito boa análise. No entanto em termos de geopolítica mundial e relações comerciais com a Rússia e China, o Brasil não pode começar uma guerra com a Venezuela. O Maduro vai continuar e tudo vai resultar em ” justus isperniadis” por parte da oposição venezuelana.