Eleições venezuelanas

by Darío Castillejos (1974-), desenhista mexicano

Eleições venezuelanas…Quem espera que o ditador seja desalojado com um movimento à maneira regular, com eleição, alternância e pressão de baixo pra cima pode ir tirando seu cavalinho da chuva. Não vai acontecer. A camarilha vai sempre fazer uma mágica com os números e declarar que venceu…

Eleições venezuelanas
by Darío Castillejos (1974-), desenhista mexicano

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 Palavra do dia: fraude.

É termo panromânico, disseminado das praias lusitanas à beira do Mar Negro. Aparece também em inglês, holandês e até indonésio (via holandês).
Herdamos essa palavra do latim fraus/fraudis, substantivo da 3ª declinação. O significado de fraude é próximo ao de cilada e de emboscada. Um detalhe importante, porém, marca a diferença de sentido.
A cilada e a emboscada atentam contra a vida ou a integridade física da vítima, enquanto a fraude tem por única finalidade satisfazer aos interesses de quem a pratica.

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Nicolás Maduro, de tantas que aprontou, não tem outra saída que não seja agarrar-se ao poder para permanecer a salvo até o fim de seus dias. Ficará “presidente” até que seja apeado pela força. Se for obrigado a abandonar o osso, a “menos pior” das soluções seria um acordo que concedesse ampla anistia a ele e a seus cúmplices.

Anos de má gestão empobreceram o país e exauriram suas reservas em ouro e seu capital de credibilidade internacional. O povão paga a conta dos desmandos da camarilha que se instalou no topo do Estado. Os milhões de refugiados que constituem a diáspora venezuelana, espalhada pelo mundo, bem que gostariam de voltar à pátria, mas a total ausência de oportunidades os desencoraja.

Em dez anos no poder, para segurar-se no posto máximo, Maduro cooptou todos os que, de perto ou de longe, teriam poder para ameaçá-lo. Generais e outros militares de alta patente, procuradores e juízes vêm todos comer na mão do caudilho. São todos “comprados” com dinheiro da petroleira estatal e com nepotismo, favores, benesses e sinecuras inconfessáveis.

Executivo, Legislativo e Judiciário estão mancomunados e devoram as riquezas nacionais como urubus circulando em roda da carniça. Esses milhares de apóstolos cooptados dão ao governo firme sustentação. Sabem que, caso Maduro caia, o destino de todos eles será provavelmente a cadeia. Ou pior ainda: uma extradição para os EUA.

Quem espera que o ditador seja desalojado com um movimento à maneira regular, com eleição, alternância e pressão de baixo pra cima pode ir tirando seu cavalinho da chuva. Não vai acontecer. A camarilha vai sempre fazer uma mágica com os números e declarar que venceu.

Portanto, vejo mal, neste momento, por qual milagre Maduro seria desalojado. Não vai servir para nada Lula da Silva fazer beicinho e dizer que “está assustado”.

O chavismo se impôs pela força e só pela força será derrubado. Quando digo “força”, não digo necessariamente tanques na rua; mas será necessária uma força bem maior que o voto de um povo que, aliás, os chavistas desprezam copiosamente.

Não adianta balançar o coqueiro, que Maduro ainda não está maduro para a queda.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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