Serviço Secreto de Trump. Por José Horta Manzano
… Me pareceu curioso o artigo da Folha que trata de um “Serviço Secreto de Trump”. Escrito dessa maneira, com maiúsculas, transmite a ideia de que há realmente uma corporação cujo nome oficial é “Serviço Secreto”, que pertence a Donald Trump…
Me pareceu curioso o artigo da Folha que trata de um “Serviço Secreto de Trump”. Escrito dessa maneira, com maiúsculas, transmite a ideia de que há realmente uma corporação cujo nome oficial é “Serviço Secreto”, que pertence a Donald Trump. Esquisito.
Dizem que o serviço é “secreto”, no entanto, os agentes são inconfundivelmente caracterizados. Assim que Trump foi baleado, em poucos segundos surgiu meia dúzia de agentes de 1m90 de altura, todos devidamente paramentados com terno preto, óculos escuros, fone de ouvido com fio entrando pelo colarinho e cara de poucos amigos. É isso ser agente secreto? No meio daquela multidão colorida, todos vestidos “à la vonté” e carregando um papel com slogan, esse Serviço Secreto é desmascarado fácil fácil.
Quatro presidentes dos Estados Unidos foram assassinados durante o mandato: Lincoln (1865), Garfield (1881), McKinley (1901) e Kennedy (1963). Diversos outros presidentes sofreram atentado. Entre os mais recentes, foram vítimas de tentativa de assassinato os seguintes: Richard Nixon, Gerald Ford (2 vezes), Jimmy Carter, George Bush pai, Bill Clinton (5 vezes), George Bush filho (2 vezes), Barack Obama (8 vezes), Donald Trump (3 vezes) e Joe Biden.
O distinto leitor e a adorável leitora já se deram conta de que a função de presidente dos EUA traz fama e prestígio, mas, por seu lado, é emprego de alto risco. Os eleitos deveriam exigir adicional de periculosidade, como os bombeiros e os limpadores de vidraças de edifícios altos.
Não encontrei estatísticas elencando os atentados cometidos contra candidatos à presidência daquele país. Deve ter havido numerosos. Com razão, o mundo está hoje chocado com o que aconteceu com Trump. O fato de o atentado ter sido filmado – com cores, som e imagem – amplifica o acontecido e apressa a divulgação.
Mais que o Brasil, os Estados Unidos são herdeiros de uma história pautada pela violência armada. Nossa história também viu passarem desbravadores marchando a pé armados de bacamartes, mas a deles está coalhada de bandos a cavalo armados de rifles automáticos, como nos filmes de faroeste. É a violência potencializada, que acabou desembocando numa peculiar sociedade em que os cidadãos de bem levam uma arma à cinta. Nunca se sabe.
Todos os líderes mundiais se precipitaram para esconjurar o atentado sofrido por Trump. De Macron a Lula, de Milei a Xi Jinping, todos se mostraram indignados com o fato de ver conflitos de opinião resolvidos à bala. Esses pronunciamentos me pareceram, em grande parte, um concentrado de hipocrisia. Meio mundo gostaria que a bala que atingiu a orelha de Trump tivesse passado alguns centímetros mais à direita.
Esta não é, naturalmente, a opinião deste escriba. Estou só tentando adivinhar o sentimento de muita gente fina.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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