PRIMEIRO GRUPO DA AVIAÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 32. "OS GAVIÕES DE PENACHO"

Os valentes gaviões de penacho. Por Laurete Godoy

Os valentes gaviões de penacho…Era emocionante quando se encontravam nos ares, de um lado os aviões vermelhinhos federais e, do outro, os prateados com faixa preta dos Gaviões de Penacho.

Força Aérea Alvinegra: a Aviação Constitucionalista durante a Revolução de 1932

No final de 1931 e início de 1932, movimentos de protesto contra o governo de Getúlio Vargas ganharam vulto na capital paulista, e passeatas e comícios passaram a ser reprimidos energicamente. Em 23 de maio ocorreu um choque entre polícia e manifestantes. Quatro membros do Partido Democrático foram mortos a tiro pela polícia federal, e as iniciais dos nomes das vítimas – Miragaia, Martins, Dráusio, Camargo – formaram a sigla MMDC, estopim que desencadeou uma revolução armada.

 Gavião-de-penacho
Gavião-de-penacho

A partir de 9 de julho de 1932, São Paulo ficou isolada do resto do país.

O governo federal havia adquirido aviões de fabricação inglesa e americana. Os aparelhos do Grupo Misto de Aviação e da Aviação Naval operaram desde os primeiros momentos da Revolução de 1932, executando missões em várias frentes de ação. Fizeram reconhecimentos aéreos, promoveram bombardeios, acompanhamento de combates, coberturas de áreas, lançamento de folhetos, bloqueio naval, controle de navios mercantes, fiscalização do litoral etc. e, assim, pela primeira vez, a aviação militar brasileira participou de um conflito armado.

 A origem dos “Gaviões de Penacho”: Quando o Major Lysias Rodrigues efetuou viagem de reconhecimento pela Rota do Tocantins, ficou impressionado com os bravios índios Gaviões, cuja tribo possuía como símbolo, um pequeno penacho vermelho. Na Revolução Constitucionalista, o Major Lysias foi designado Comandante do 1.º Grupo de Caça das Forças Paulistas e batizou sua Unidade como “Gaviões de Penacho”.

As bases dos Gaviões foram distribuídas por quatro Setores: Sul – Campo de Itapetininga; Norte – Vale do Paraíba; Setor de Mogi-Mirim – Campos de Mogi-Mirim, Chapadão, Hipódromo e Viracopos; Santos – Campo de Marte e Praia Grande. O campo da Praia Grande teve destacado papel, porque serviu de apoio tanto para os aviadores legalistas, como para os constitucionalistas.

Em 28 de julho de 1932, no Campo-Base do Setor Sul, um avião foi abastecido com bombas, e as metralhadoras com munição. Tudo em ordem, o Potez A 212 decolou para uma ação que deveria durar menos de duas horas e atingir o objetivo específico de destruir aviões inimigos. Após uma espera ansiosa, o 212 retornou, trazendo sãos e salvos os Tenentes José Ângelo Gomes Ribeiro e Arthur da Motta Lima, participantes da primeira missão aérea na América do Sul, com baixa de um avião de combate.

No encontro com o Comandante, a continência e a informação de Motta Lima: “Missão cumprida! Avião inimigo destruído em terra”. Foi no Campo de Faxina, no ataque às aeronaves legalistas no solo, que ocorreu a estreia dos Gaviões de Penacho, na Revolução Constitucionalista de 1932.

A partir daí, mecânicos, serventes, civis, oficiais e pessoal de apoio ao Grupo, não tiveram descanso. Os ataques a metralhadoras e os bombardeios eram constantes. Os “passarinhos”, como eram chamados os aviões paulistas, e entre eles o “Negrinho”, mascote do grupo, desdobravam-se na defesa do seu ideal, porque São Paulo lutava sozinho contra os demais Estados brasileiros.

As missões sucediam-se, marcadas pela ansiedade e expectativa, com os aviões respondendo corajosamente às solicitações dos pilotos.

Sobre a região de Buri, em pleno voo, um aparelho legalista foi atingido e espatifou-se no solo, tratando-se do primeiro avião abatido em combate aéreo na América do Sul. Coube ao Comandante Lysias a honra de, finalmente, abater em pleno ar o valente Potez A 117, que parecia ter sete fôlegos.

Era emocionante quando se encontravam nos ares, de um lado os aviões vermelhinhos federais e, do outro, os prateados com faixa preta dos Gaviões de Penacho.

Segundo Lysias Rodrigues: “Os céus de São Paulo eram cruzados diariamente em todos os sentidos, a todas as alturas, chovesse ou fizesse sol, fosse dia escampo ou nublado, houvesse cerração ou bruma parda. Os ‘Gaviões’ apareciam aqui e ali, lá e além, inesperadamente, com tão pouca diferença de tempo, que parecia ter havido o milagre da multiplicação.”

Em meio a essa guerra interna e fratricida, no Grande Hotel La Plage, no Guarujá, às 13 horas do dia 23 de julho de 1932, aos 59 anos de idade morreu o inventor da direção dos balões e do voo mecânico. Alberto Santos-Dumont, que tanto se empenhara para fazer do seu invento um instrumento pacífico, sentia-se culpado e assistia angustiado à triste utilização que seus patrícios faziam do aparelho que criara. Os combates cessaram temporariamente, mas foi proibida a divulgação da causa mortis: suicídio por enforcamento.  Da certidão de óbito constou que o inventor falecera de colapso cardíaco.

A Revolução de 1932 testou e mostrou a capacidade dos aviadores militares brasileiros, na utilização do avião como arma de guerra. Mais do que isso, provou que a aviação brasileira havia alcançado elevado nível de aperfeiçoamento.

No Setor Norte do Estado, todas as cidades do Vale do Paraíba tiveram brilhante atuação na Revolução Constitucionalista.  Porém, Cruzeiro, localizada entre os Estados de Minas e Rio de Janeiro, ocupou destacado papel.

No prédio do Grupo Escolar Doutor Arnolfo de Azevedo, o comandante paulista, Coronel Euclydes Figueiredo, instalou a sede dos revolucionários da região que, quando necessário, solicitaram e receberam ajuda dos Gaviões de Penacho, para cobertura de ataques e bombardeios.

Apesar do entusiasmo paulista, a desigualdade de forças era incontestável e, finalmente, os constitucionalistas pleitearam o fim das hostilidades.

Na Convenção Militar de Cruzeiro, realizada no dia 2 de outubro de 1932, no Grupo Escolar Doutor Arnolfo de Azevedo, foi assinado o Armistício, termo de cessação do conflito. Os Tenentes-Coronéis Octaviano Gonçalves da Silveira, Euclydes Marques Machado e o Coronel Pantaleão da Silva Pessoa, representantes da Força Pública do Estado de São Paulo, assinaram o Tratado de Paz.    Assim se encerrou, oficialmente, a Revolução Constitucionalista de 1932, que tanto abalou o país.

Porém, o brado paulista foi ouvido.

Em 3 de maio de 1933 ocorreram eleições, para escolha dos membros da Assembleia Constituinte. Em 1934, o Presidente Getúlio Vargas promulgou a nova Constituição Brasileira.

São Paulo, 09 de julho de 2024.

________________________    

Laurete Godoy

Laurete Godoy  Escritora e pesquisadora. Autora de Brasileiros voadores – 300 anos pelos céus do mundo. 

1 thought on “Os valentes gaviões de penacho. Por Laurete Godoy

  1. Há exatamente 100 anos, 8 anos antes da Constitucionalista, nesta mesma época, ocorreu em SP a Revolução de 1924, também conhecida por “Revolução Esquecida”, na qual o Governo Federal não hesitou em bombardear a POPULAÇÃO CIVIL da cidade por ataque aéreo. Um caso de genocídio real protagonizado por Artur Bernardes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter