Os cabelos. Blog Mário Marinho
Ela, que estava com as mãos atrás das costas, tirou-as, abriu e mostrou-me: um imenso tufo de cabelos em cada uma…
Foi na manhã de quinta-feira, 27 de junho.
Eu havia acabado de tomar o desjejum e estava lendo o jornal.
Vera (ou Sofia, como a chamo) chegou e ficou parada, em pé, perto de mim.
Notei que ela, sempre sorridente, mostrava o semblante triste.
Perguntei:
– Tudo bem?
Ela, que estava com as mãos atrás das costas, tirou-as, abriu e mostrou-me: um imenso tufo de cabelos em cada uma.
Começou, então, pensei.
Abracei-a e puxei para o meu lado à mesa.
O câncer, esta doença tão terrível, estava mostrando uma de suas imensas e dolorosas sequelas: a queda de cabelo.
Essa sequela é mais forte, mais sentida, até devastadoras nas mulheres. O cabelo é como um órgão vital para elas. Faz parte de seu ser, como o coração, o pulmão, a alma.
O homem, esse ser pretensamente mais endurecido, se perde o cabelo, bota um boné e vai em frente.
Para a delicadeza delas, não há peruca que resolva cem por cento.
Não é nem vai ser fácil.
Esse câncer apareceu pela primeira vez em nossas vidas num exame de rotina feito na clínica Femme, em Osasco, no da 9 de fevereiro de 2024.
Foi levantada a possibilidade de um tumor no seio.
A partir daí, a Vera fez uma série de consultas com ginecologista, oncologista, mastologista, vascular, cardiologista, anestesista e até dentista.
Confirmada a presença do câncer e feitos todos os preparativos, a cirurgia foi marcada para o dia 15 de abril, uma segunda-feira.
Na véspera, no domingo, nós estivemos na Igreja de São Francisco, no Jaguaré, para pedir a proteção através da unção dos enfermos, realizada pelo padre Adilberto. São Francisco está sempre presente em nossas vidas: foi na Capela de São Francisco, na Pampulha, em Belo Horizonte, que nos casamos em 1969.
Foi na Igreja de São Francisco, no Jaguaré, que foi celebrada a missa de nossos 50 anos de casados.
A cirurgia transcorreu normal e foram extirpados dois nódulos malignos no seio esquerdo.
O período seguinte foi de recuperação da cirurgia e de uma série de consultas e procedimentos sempre feitos no Hospital Paulistano.
Até que a cirurgia foi considerada totalmente cicatrizada e confirmado que o tratamento seria a Quimioterapia, com quatro sessões a cada três semanas.
A primeira delas foi no dia 17 de junho, uma segunda-feira.
A Vera, meus filhos Verênia e Cássio, que se revezam incansavelmente, graças a Deus, para acompanhá-la nas consultas e todos os procedimentos (eu fui proibido pelos filhos de ir a hospital) foram orientados sobre os acontecimentos futuros, comportamentos, dores, desconfortos, variações de humor e até a possível queda de cabelos.
Até que nesta última quinta-feira, dia 27-06, veio a queda de cabelo.
Durante esses 10 dias pós Quimio, a Vera reagiu bem.
As previsões feitas pelos médicos têm-se cumprido. Eles disseram:
– A reação à Quimio é absolutamente pessoal e imprevisível. A pessoa pode estar bem pela manhã e estar ruim à tarde. Pode dormir bem e acordar mal. Pode ficar bem humorada e, no momento seguinte, ficar totalmente mal humorada. Não há um padrão definido.
Mas a Vera é forte e tem resistido bem.
Seu bom humor está sempre presente. Às vezes, pinta uma certa tristeza, uma vontade de se recolher, de não receber ninguém de não falar nada com ninguém – de não conversar e nem mesmo de ouvir.
Felizmente são momentos rápidos.
Temos recebido solidariedade de todos os lados, orações, incentivos, mensagens bem-humoradas, cheias de energias.
São também inúmeros os abraços.
E eu já avisei: nenhum desses abraços será virtual: cada vez que alguém manda um abraço, eu dou um abraço nela.
Portanto, se você quer ver sua amiga muito abraçada, mande o abraço que eu entrego pessoalmente.
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
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Muitos abraços para a Vera! Tudo isso há de passar!
Bom dia Mario.
Mande o meu abraço para ela, ou melhor dê um abraço e diga que o Gil, genro do Sr Raul Cláudio Ferretti mandou. Diga para ela que eu superei o meu eu ela irá superar o dela tbm. Beijos para vcs todos
Marinho, dê então um abraço bem apertado na Vera por mim, por favor.