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Cyborg em duas etapas. Por Paulo Renato Coelho Netto

… O Homem Biônico, como também foi chamado no Brasil, se baseou no livro Cyborg, de Martin Caidin. O best-seller foi publicado 52 anos atrás, em 1972, nos Estados Unidos…

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Foi pura epifania ou o criador do seriado O Homem de Seis Milhões de Dólares, o novaiorquino Martin Caidin (1927/1997), era um gênio muito além do próprio tempo. Ou as duas coisas.

Com o título original The Six Million Dollar Man, o seriado foi ao ar pela primeira vez em março de 1973. Tinha uma hora de duração. Era estrelado pelo ator Lee Majors.

O Homem Biônico, como também foi chamado no Brasil, se baseou no livro Cyborg, de Martin Caidin. O best-seller foi publicado 52 anos atrás, em 1972, nos Estados Unidos.

O ser humano (estadunidense) chegou à Lua no dia 20 de julho de 1969, apenas três anos antes do lançamento da obra de Caidin.

Em termos tecnológicos, a década de 70 marcou a saída do homem primitivo das cavernas do obscurantismo eletrônico.

Tudo aconteceu aos poucos na década de 70. Televisões ganharam cores, computadores deixaram as dependências militares para o cotidiano civil, foi inventado o telefone celular, vitrolas coloridas se transformaram em bons aparelhos de som, tudo sem o açodamento de hoje.

Quem é que falava biônico na década de 70?

Daí tentar imaginar como Martin Caidin criou O Homem de Seis Milhões de Dólares é constatar que a mente humana, aliada ao talento, pode viver décadas à frente dos demais pobres mortais.

O Cyborg foi a primeira criação híbrida de um homem, parte carne e osso, parte tecnologia de última geração: cyber(netics) organism, organismo cibernético.

Ou seja, ao criar o cyber organism, Martin Caidin foi o precursor do cybercafé, do cyberbullying, do cybercrime, do cyberterrorismo, do cyber sexo virtual e do cyber do tigrinho, entre tantos outros.

Se você acreditava que série é uma invenção atual da Netflix é porque não sabia que o Cyborg já fazia isso há mais de meio século.

Era assim:

O personagem interpretado por Lee Majors, Steve Austin, sofre um acidente enquanto pilotava um avião.

– Deu pane no motor três!

– Deu pane no motor três!

– Deu pane no motor três!

Fica a dúvida se era um avião que voava muito alto e voltava normalmente para a Terra ou se era um foguete-avião que viajava além da órbita terrestre.

Outra epifania do escritor ao imaginar os ônibus espaciais.

Na queda, Steve Austin se esborracha no deserto e é levado nas últimas para um local secreto de experimento do governo americano, desses que você encontra ETs no refeitório.

O seriado começava com a nave/avião em queda. Corte rápido para a mesa de cirurgia, ele recebendo o braço direito, as duas pernas biônicas e um olho zero bala cheio de tecnologia.

O personagem Oscar Goldman, interpretado pelo ator Richard Anderson, chefe de Austin, narrava:

Steve Austin, astronauta. Um homem semimorto. Senhores, nós podemos reconstruí-lo. Temos a capacidade técnica para fazer o primeiro homem biônico do mundo. Steve Austin será este homem. Muito melhor do que era. Mais forte, mais rápido.

Não saiu barato, obviamente. A traquitana custou seis milhões de dólares ao contribuinte americano. Em troca, o astronauta precisou pagar o governo com serviços a campo, tipo o que faz hoje o baixinho Tom Cruise em suas missões impossíveis de assistir.

Com forças inigualáveis no braço direito, a capacidade de correr em velocidades altas e o olho biônico e infravermelho capaz de identificar a quilômetros de distância se a moeda no chão estava com a cara ou a coroa para cima, Steve Austin ganhava todas.

O primeiro episódio que busco no YouTube para assistir e reavivar a memória do Cyborg, que não via desde a infância e a adolescência, quase destrói as belas lembranças do astronauta biônico.

Ele lutando com o Pé Grande, o curupira dos americanos que, ao invés de ter os pés virados para trás, como no folclore brasileiro, tem um pé enorme e sempre é visto vagando sozinho na floresta.

Alguém reclamou do Pé Grande e o Cyborg foi tirar satisfação.

A cena do astronauta biônico lutando com a solitária criatura é impagável. Eles rolam no mato, um batendo no outro, jogando tronco de árvore.

A exibição esquentou tanto que a máscara do Pé Grande sai um pouco do lugar e a luta continua assim mesmo, enquanto o ator tenta arrumá-la.

A cada novo episódio, novas aventuras.

Cyborg corria a 90 quilômetros por hora, o que não é nada para os dias de hoje.

Suas pernas o faziam saltar até altos andares de prédios, da mesma forma que aguentavam pousos alçados de terraços.

Seu braço biônico era usado para acabar com os opositores. Uma pancada bastava. Entortava aço sem fazer careta. Nem uma gota de suor. Deixava carros com as rodas para o céu.

Em alta definição, os olhos identificavam o inimigo a milhas de distância.

Tudo sob efeitos sonoros eletrônicos, novidade para a época.

Imagine o que não se passava na cabeças das crianças da década de 70 diante daquela série.

Agora me lembro do Cyborg ao trocar meus óculos para enxergar.

Um para longe, outro para ler e escrever.

O mesmo personagem em duas etapas da vida.

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Instagram: @paulorenatocoelhonetto

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Paulo Renato Coelho Netto –  é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.

 

capa - livro Paulo Renato

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