gostosas envelhecem

As gostosas também envelhecem. Por Paulo Renato Coelho Netto

… “Não se deixe enganar pela tintura, as gostosas também envelhecem”. A frase é minha e pode ser aplicada retroativamente às mulheres desde quando deixamos as cavernas, desenvolvemos e aplicamos o conceito de beleza …”

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Ingrid Bergman – no Oscar, em 1975
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Ingrid Bergman

“Não se deixem enganar pelos cabelos brancos, pois os canalhas também envelhecem”. A frase é de Rui Barbosa, sempre atual e renovada.

“Não se deixe enganar pela tintura, as gostosas também envelhecem”. A frase é minha e pode ser aplicada retroativamente às mulheres desde quando deixamos as cavernas, desenvolvemos e aplicamos o conceito de beleza a elas, razão de viver do homem hetero e carnívoro.

As rugas chegaram com o tempo até mesmo para Ingrid Bergman, uma das atrizes mais lindas do cinema. Basta comparar suas fotografias, aos 27 anos, quando fez Casablanca, às de 67 anos, idade que morreu.

Play It Again, Sam, dita por ela para o pianista tocar novamente As Time Goes By é uma das frases e cenas mais icônicas do cinema mundial até hoje. O filme Casablanca foi lançado em 1942.

Não consta que a sueca Ingrid Bergman tenha envelhecido amargurada ou entrando em polêmicas para permanecer nas manchetes das revistas.

Quando completou 80 anos, em outubro de 2009, Fernanda Montenegro declarou: “Não tenha medo, vai chegar. Pegue esse terror, ponha fora de você e veja o ganho que você teve na vida. A velhice também me deu um conhecimento melhor de mim mesma”.

Fernanda Montenegro, atriz e imortal pela Academia Brasileira de Letras, ainda trabalha, encanta e emociona.

Neste exato momento, aos 94 anos, ela comemora 80 anos de carreira apresentando, em São Paulo, Fernanda Montenegro Lê Simone de Beauvoir.

Há uma diferença abissal entre ser uma atriz de talento nato e lapidado para um rostinho bonito que faz ponta em novela, seja mulher ou homem.

Bajuladas desde cedo pela aparência, as ex-gostosas reaparecem como fantasmas de si mesmo jogando iscas que a mídia fisga, mata no peito e empurra na cara do leitor.

Acontece nos melhores sites.

Qual seria o ganho saber que a fulana de tal fez xixi no companheiro ou no poste da esquina?

É deprimente, não pelo que qualquer casal faz ou tem o direito de fazer entre as quatro paredes do banheiro, desde que ambos concordem.

Deprime porque ninguém precisa se expor dessa forma, seja por qual motivo for.

O mesmo espaço que a mídia abre para assuntos sem a menor relevância poderia ser usado para tratar de temas de importância para a sociedade.

Editores, por onde andam?

Nas quase extintas bancas de revistas encontrávamos publicações diversas. Havia espaço para todos. De gibis a revistas específicas sobre ciência. Publicações para adolescentes, jornais escritos sob medida para determinados leitores, como o Estadão e o Jornal da Tarde, a Folha de S.Paulo e o Notícias Populares.

A informação é entregue prensada em um pacote só.

A emoção de uma criança diante de uma banca de revistas, dispositivo eletrônico nenhum vai superar. A dos pais que podiam escolher o que ler também.

O início oficial do fim da humanidade se dará no dia que a última banca de revistas fechar.

No afã de abocanhar todos os peixes do oceano, os megalodontes da comunicação não identificam mais o que é alimento ou lixo boiando no mar.

Os portais oscilam no mesmo nível de visualização do cotidiano ao escatológico.

A insignificância ainda pode acabar com o que resta do jornalismo.

No que se refere ao ser humano, olhar para fora é muito mais fácil que analisar a si mesmo.

Análise, no sentido literal.

– Vou me olhar nu diante do espelho. Vou apagar as luzes do quarto, deitar a cabeça no travesseiro e não mentir para mim mesmo sobre o que me tornei e se ainda posso ou quero mudar.

Geralmente lemos ou ouvimos que alguma senhora com 40 anos – ou bem mais de 50 – diz que tem corpo de uma moça de 20 anos.

Não tem.

O que ela tem é um corpo de 40/50 anos e uma cabeça de uma jovem de 20 anos.

Isso chama-se déficit de maturidade.

Uma adolescente que virou atriz, sem aptidão para interpretar e o menor talento para a profissão, não pode reclamar que não encontra trabalho depois dos 40 anos.

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Cláudia Abreu

E daí apela, vira barraqueira, ganha seguidores nas redes sociais e patrocinadores. Puro ardil.

É assim que sobrevive porque a aparência de comercial de margarina acabou.

Há mulheres lindas aos 50 anos. Cláudia Abreu, por exemplo. Sempre foi atriz de primeira grandeza. Tem luz própria. Seu talento é reconhecido. É inteligente. Escreve, estuda. É fiel ao seu próprio tempo.

A elegância torna as pessoas mais belas.

A beleza natural do ser humano a velhice não acaba.

Diariamente vejo velhinhas lindas nas ruas e supermercados. As que pintam o cabelo de cinza clarinho, então… essas evito passar por perto para não pegar para mim.

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Instagram: @paulorenatocoelhonetto

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paulo rena

Paulo Renato Coelho Netto –  é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.

 

capa - livro Paulo Renato

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