A lição da Mãe Natureza. Por Laurete Godoy
Agradeço à sempre sábia Mãe Natureza que mostrou um erro que eu havia cometido, induzindo-me a redobrar minha atenção a partir de então, procurando não efetuar julgamentos precipitados e levianos.
Citações bíblicas ricas de ensinamentos são repetidas por milhares de bocas, ao longo dos anos e em variadas situações. As considerações ali contidas são usadas por muitas pessoas e, assim, vão passando de geração a geração. Na maioria das vezes servem como pilares de sustentação para aconselhamentos e, para quem tiver interesse e vontade de ouvir, poderão também proporcionar revisão de valores.
Muitas vezes, ao longo da caminhada, presenciamos certas situações e, mesmo sem termos conhecimento da causa, alinhavamos uma história, colocando em julgamento os personagens envolvidos. Nesse contexto sempre haverá uma pessoa considerada culpada. Porém, se com o passar do tempo a verdade aparecer, o julgador descobre que estava redondamente enganado.
Se ele tiver olhos de ver e ouvidos de ouvir, compreenderá o recado, poderá policiar a necessidade imediata de julgar o próximo e, com isso, estará trabalhando na reforma íntima. Caso contrário, irá passar pela vida olhando, julgando, condenando e executando pessoas, sem misericórdia, com visão limitada e retorcida.
Agradeço à sempre sábia Mãe Natureza que mostrou um erro que eu havia cometido, induzindo-me a redobrar minha atenção a partir de então, procurando não efetuar julgamentos precipitados e levianos.
Moro nas Perdizes, um agradável bairro da zona Oeste paulistana. De algum tempo para cá, as casas antigas passaram a ceder espaço aos edifícios. Havia na rua Turiaçu um casarão amarelo, rodeado de flores e diversas árvores. Passei por lá e vi caminhões entrando e saindo, vai e vem de trabalhadores e, pelo tamanho do terreno, dois ou três prédios poderiam vir a ser construídos no local.
Uma bela e frondosa árvore, junto ao muro de entrada, que fazia a alegria da passarada, estava sendo podada. Os galhos maiores eram serrados com cuidado e, vendo aquilo, fiquei feliz por perceber que ela seria poupada.
Porém, alguns dias mais tarde a árvore estava completamente sem folhas. Enorme, esquálida, galhos vazios e tristes sem o verde que os enfeitava. O caule estava cinzento e parecia morto. Indignada pensei: – Colocaram remédio na árvore, para ela secar e com isso poderão cortá-la sem protestos, por ser medida saneadora. Insensíveis! Como isso é possível? Aquela certeza deixou-me inconformada. Comentei o fato com diversas amigas e fui veemente no julgamento e nas acusações.
Depois de certo tempo passei por lá e fiquei deslumbrada. A árvore transformara-se num verdadeiro buquê preparado por Deus, para enfeitar a festa da Natureza. Descobri tratar-se de uma linda Acácia rosa, que explodira em lindos cachos de flores, para ministrar-me extraordinária lição.
Fiquei parada, admirando a beleza e a elegância da árvore. Envergonhada, em prece pedi desculpas às pessoas desconhecidas que eu havia julgado, condenado e executado com tanto rigor. E prometi a mim mesma uma severa vigilância para não cometer mais injustiças semelhantes.
Imediatamente lembrei-me da conhecida citação bíblica que está no Evangelho de Lucas 6 – 37: “Não julgueis, e não sereis julgados”.
Julgar? Se possível, jamais!
Mas sei também que todos nós, por mais bem intencionados que estejamos, sempre seremos passíveis de recaídas.
Sempre seremos passíveis de recaídas…
São Paulo, 22 de junho de 2024.
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Laurete Godoy – Escritora e pesquisadora. Autora de Brasileiros voadores – 300 anos pelos céus do mundo.