Dirigentes provincianos. Por José Horta Manzano
… Se nossos provincianos dirigentes fossem mais cuidadosos no trato internacional, enfrentariam um caminho menos pedregoso.
“O Brasil se solidariza com a Rússia” – foram as palavras que Jair Bolsonaro, então presidente da República, dirigiu a Putin quando de sua visita ao Kremlin naquele fevereiro de 2022. O horizonte da Europa se assombreava naqueles dias, com a perspectiva da invasão da Ucrânia pelas tropas russas, na guerra que estouraria uma semana depois e que dura até hoje.
“Eu espero que o Biden ganhe as eleições” – foram as palavras de Lula da Silva em fevereiro deste ano em entrevista a um canal de tevê.
Há certas coisas que um presidente não deve dizer, certos pareceres que ele não pode dar, certas opiniões que ele não precisa externar. Pelo menos em público. Em privado, em sua sala de visitas diante de amigos e longe da imprensa, está livre para dar opiniões pessoais. Assim mesmo, é sempre bom ter cuidado porque, como se sabe, amigos são amigos até o momento em que deixam de o ser.
Já em público é outra conversa. As opiniões de um chefe de Estado têm o dom de comprometer o Estado inteiro.
Bolsonaro bajulou Trump e aplaudiu Putin, mas insultou a primeira-dama francesa e ofendeu o presidente argentino.
Lula apoiou a reeleição do presidente da Argentina e aplaudiu o Partido Socialista português, mas encrencou com Milei e desdenhou o presidente da Ucrânia.
Tanto Bolsonaro quanto Lula fizeram o que não deviam. Mostrar preferência por um dirigente estrangeiro, especialmente em época de eleições, é comportamento desajeitado, leviano e perigoso.
Quando o dirigente adulado perde, como é que fica? Digamos que Biden venha a perder, o que é não é improvável, com que cara Lula vai encarar Trump?
Em vez de atiçar Luiz Inácio e incutir-lhe doses de antiamericanismo radical, o “assessor” Amorim deveria abrir os olhos do presidente para evitar esse tipo de comportamento e fugir a futuras saias justas.
Se nossos provincianos dirigentes fossem mais cuidadosos no trato internacional, enfrentariam um caminho menos pedregoso.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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