Por que os estúpidos sempre ganham a discussão? Por Aldo Bizzocchi
Estúpidos…O imbecil é manipulado o tempo todo pelo marketing, pelos políticos e pelos líderes religiosos, mas tem certeza de que sabe quem é o melhor nome para ocupar a prefeitura, o governo estadual, a presidência da república. E briga com quem vote em outro candidato. Ele é a massa de manobra perfeita nas mãos dos espertalhões…
[Publicado originalmente no site do autor]
Você já notou que, enquanto os sábios sempre têm muitas dúvidas, as pessoas estúpidas são sempre cheias de certezas e se comportam como donas da verdade? Elas geralmente falam em tom professoral e por vezes têm uma atitude arrogante, de quem acha que estúpidos são os outros — especialmente os que discordam delas.
Livros e palestras de autoajuda são em geral um amontoado de bobagens, mas outro dia assisti a um vídeo em que um coach dividiu os saberes em quatro categorias: as coisas que sabemos que sabemos, as coisas que sabemos que não sabemos, as coisas que não sabemos que sabemos e as coisas que não sabemos que não sabemos.
Em seu livro A ilha do conhecimento, o físico brasileiro Marcelo Gleiser compara metaforicamente nosso saber a uma ilha cercada pelo oceano da ignorância. Quanto mais pesquisamos e aprendemos, maior fica a área dessa ilha. Mas, conforme a ilha se expande em superfície, também cresce o comprimento de sua orla. Em outras palavras, quanto mais sabemos, mais nos damos conta do quanto ainda falta saber. Quanto mais conhecimento acumulamos, mais dúvidas e perguntas temos sobre o que não conhecemos. A postura do sábio é exatamente esta: o que sei é pouco, o que ignoro é muito. Ou, como disse Sócrates, “só sei que nada sei”. Embora pareça um paradoxo, a frase do filósofo grego mostra que ter a consciência de nada saber já é um saber. Portanto, quem nada sabe, mas sabe que não sabe, sabe alguma coisa.
O problema dos imbecis é que sua “ilha do conhecimento” é tão pequena, em alguns casos tão resumida a um único pontinho no oceano, que o litoral de ignorância dessa ilha também é ínfimo. E, das quatro categorias de saberes acima mencionadas, os idiotas só conhecem as duas primeiras: as coisas que eles sabem que sabem e as coisas que eles sabem que não sabem. Mas eles não têm consciência das coisas que não sabem que sabem e menos ainda das coisas que não sabem que não sabem.
…Por isso, se você costuma discutir temas complexos sem ser especialista e em geral vence a discussão, fique atento: os grandes idiotas são grandes idiotas exatamente porque não sabem que são idiotas…
Um Zé Ruela qualquer pode ter grande competência no seu ofício braçal (por exemplo, assentar tijolos) e até dar aula sobre isso: é o que ele sabe que sabe. Pode também ter ciência de que não sabe falar inglês, pois já viu muitos gringos falando “aquela língua das estranjas”. Mas provavelmente ele não sabe que talvez saiba cozinhar, isto é, que tenha aptidão para a culinária, simplesmente porque nunca experimentou fazer comida. Por fim, em sua pouca cultura letrada, ele não sabe que não sabe nada sobre política, economia, física, astronomia, cosmologia, literatura, filosofia… O problema é que ele, erradamente, classifica as coisas que não sabe que ignora na categoria das coisas que sabe que sabe. Passa então, dentro de seu estreitíssimo horizonte, a discutir política e economia como um doutor no assunto. Sua única leitura é a Bíblia, mas como, para ele, ali está a palavra de Deus, não há necessidade de ler mais nada, pois todas as respostas ali estão, da origem do Universo, da origem e do propósito da vida, do certo e do errado, do moral e do imoral, da morte e da vida após a morte, da superioridade do ser humano sobre todas as outras criaturas, do seu direito de fazer do planeta o que quiser (porque não é o dono do mundo, mas é filho do dono), e assim por diante. Ele pensa que sabe quem escreveu esse livro, mas não sabe quem realmente o escreveu nem por que razões nem em que circunstâncias. E zomba de quem pensa diferente dele: sabe de nada, inocente!
O imbecil é manipulado o tempo todo pelo marketing, pelos políticos e pelos líderes religiosos, mas tem certeza de que sabe quem é o melhor nome para ocupar a prefeitura, o governo estadual, a presidência da república. E briga com quem vote em outro candidato. Ele é a massa de manobra perfeita nas mãos dos espertalhões, que enriquecem à custa dele, mas ele é quem se acha o grande espertalhão. E isso se confirma cada vez que discute com alguém mais instruído que ele, afinal, nessas discussões, ele sempre “lacra”, sempre dá a última palavra. Mas o que ele não sabe que não sabe é que o interlocutor mais escolado, mais bem informado e dotado de maior senso crítico, mais próximo, portanto, do patamar de sabedoria, vendo a pobreza espiritual do estúpido, conclui que é inútil continuar a debater com ele e encerra a conversa, deixando que o cretino pense que venceu a argumentação. E, assim, de discussão em discussão, o energúmeno vai se sentindo cada vez mais sábio, cada vez mais autoconfiante em sua sapiência. Só que não.
Por isso, se você costuma discutir temas complexos sem ser especialista e em geral vence a discussão, fique atento: os grandes idiotas são grandes idiotas exatamente porque não sabem que são idiotas.
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Aldo Bizzocchi é doutor em linguística e semiótica pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorados em linguística comparada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em etimologia na Universidade de São Paulo. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa da USP e professor de linguística histórica e comparada. Foi de 2006 a 2015 colunista da revista Língua Portuguesa.
Acaba de lançar, pela Editora GrupoAlmedina,
“Uma Breve História das Palavras – Da Pré-História à era Digital”
Site oficial: www.aldobizzocchi.com.br
e-mail: aldo@aldobizzocchi.com.br
O Brasil é um país muito rico, mas subdesenvolvido.
Esta Nação precisa urgentemente de um líder que tenha plena vocação para servir ao povo brasileiro e ao seu país e não a si mesmo, às cores do seu partido e aos corruptos.
Para que o país prospere é preciso começar por acabar com a violência para que a população possa viver em total segurança, acabar com a corrupção e com os altos salários dos políticos para que haja dinheiro para muito investimento público e desenvolvimento.