Treino é treino; jogo é jogo. Blog Mário Marinho
Treino é treino; jogo é jogo…
Essa frase que se tornou histórica no futebol brasileiro foi dita por um craque, num momento muito especial da Seleção Brasileira.
O craque Didi.
O Brasil havia se classificado para a Copa do Mundo de 1958 ao vencer o Peru, 1 a 0, num Maracanã com 140 mil torcedores, com um gol de Didi, cobrando falta.
O craque, que era jogador do Botafogo, tinha um jeito todo especial de bater na bola que, passada a barreira, caía rapidamente, enganando o goleiro. Esse movimento da bola, muito raro naquela época, acabou ganhando o apelido de “Folha Seca”, aquela folha que ao cair da árvore vai fazendo curvas.
Assim eram as bolas nas faltas cobradas por Didi.
Além de craque, Didi era um homem elegante. Fora de campo, vestia-se muito bem. Dentro dele parecia desfilar tamanha a elegância e até ganhou apelido que se tornou histórico, dado pelo jornalista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues: “Príncipe Etíope”.
Pois eis que, de repente, o craque Didi perde a condição de titular da Seleção Brasileira para o meia do Flamengo, Moacir, que era bom de bola, porém, longe do craque botafoguense.
Os repórteres que cobriam a Seleção, logo após o treino correram para Didi e perguntaram como ele via aquela situação e estar treinando entre os reservas.
Monossilábico como sempre, Didi foi curto e objetivo:
– Treino é treino, jogo é jogo.
E, claro, na Copa do Mundo da Suécia, foi dele a posição de titular. Como seria ainda por anos a fio na Seleção Canarinha.
Só para matar a saudade, eis o time que no dia 21 de abril de 1957 venceu o Peru e se classificou para a Copa com o famoso gol de “Folha Seca” de Didi:
BRASIL: Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Zózimo e Nílton Santos; Roberto Belangero e Didi; Joel, Evaristo, Índio e Garrincha. Treinador: Oswaldo Brandão.
E qual o motivo dessa lembrança?
Tenho esperanças de que o futebol bem meia-boca, nota 5,5, apresentado pelo Brasil no empate com o Estados Unidos se enquadre naquela máxima do Didi.
Treino é treino.
E assim que começar a Copa América, na semana que vem, o Brasil mostre seu verdadeiro futebol, aquele que nos levou a ganhar cinco Copas do mundo e a encantar o mundo todo por sua beleza, sua técnica refinada, seus dribles que levavam à loucura os marcadores adversários.
Será que é pedir muito?
Eu acho que não.
Antes de mais nada, é preciso levar em consideração que estamos em fase de treinos que tem sido bem aproveitada pelo técnico Dorival Jr. para fazer experiências.
Temos bons jogadores.
Nossos goleiros estão entre os melhores do mundo.
Nossa linha de zagueiros tem se mostrando segura, embora necessite de um esquema tático que lhe garanta um pouco mais de proteção.
O meio de campo não é tão criativo como outros que já tivemos, porém trabalha com eficiência.
O ataque tem tudo para ser arrasador.
Reunir num só time Endrick, Rodrygo e Vinicius Jr. é o sonho de qualquer treinador.
Para completar o ataque o rápido Rafinha pode ser escalado.
Ou, então, caso Dorival Jr, ouse ser ousado, pode escalar o garoto Savinho, de 20 anos.
Savinho, capixaba de nascimento, foi revelado pelo Atlético Mineiro e hoje defende o espanhol Girona.
No treino de ontem ele entrou no lugar de Rafinha e se sentiu muito à vontade para aplicar alguns dribles, criar algumas situações boas de ataque.
Enfim, queira Deus que aquele futebol mixuruca que nós assistimos, fique apenas na conta do “Treino é treino…”
E que venha o “Jogo é jogo”.
Ameiavida
Nessa terça-feira, foi o lançamento do livro Ameiavida do companheiro Tim Teixeira, ótimo texto de velhas jornadas pelo saudoso Jornal da Tarde.
Em se tratando de Tim Teixeira, há a garantia de texto elegante, de história criativa que há de segurar o leitor do princípio ao fim.
Sem querer dar spoiler, veja o que diz o próprio Tim:
“Este é um livro que escrevi com muita dor. É a história de duas pessoas, uma que não conheci e outra que fez parte de minha vida. São, na verdade, duas histórias. Duas histórias que se entrelaçam e se confundem e que, no fim, parecem ser uma só.”
Boa leitura!
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
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Marinho, vendo o time de 57, o do Brandão, vi o Garrincha na ponta-esquerda. Em 70, arrumaram um lugar para o Rivellino na ponta. Craque sempre tem o seu lugar. Será que isso vai acontecer com o Neymar em 2026?
Marinho, creio que essa sabedoria do futebol valha também para outras modalidades. Outro dia, em uma entrevista para a ESPN, vi a tenista Bia Haddad dizer-se tranquila, apesar dos maus resultados e da queda no ranking, porque treina maravilhosamente bem. Seu único problema, segundo ela, é que na hora do jogo está sendo atrapalhada por questões psicológicas. Ora, não seria melhor treinar muito mal e jogar maravilhosamente bem?